18 de julho de 2008

Toda merda agora é arte

AG Sued
Numa visão irreverente, questionando o conceito de arte e fazendo uma analogia inversa à estética, o artista plástico Fábio di Ojuara quer desconstruir os efeitos da produção artística a partir de percepção, emoções e idéias, com o objetivo de estimula a concepção intelectual com uma nova proposta: “toda merda agora é arte”. Segundo o artista, o projeto nasceu para juntar todo tipo de expressão artística de qualidade duvidosa no mesmo balaio popular.

Geralmente, a palavra arte é entendida como a atividade humana ligada as manifestações de ordem estética, feita por artistas para causar emoção em um ou mais espectadores. Porém, Fábio di Ojuara afirma que sua proposta é algo conceitual e pode ser interpretada de diversas maneiras. “O pessoal do Dadaísmo, por exemplo, já trabalhava essa lógica e muitos artistas utilizaram excrementos para compor trabalhos artísticos”, justifica.

Conforme o artista, “toda merda agora é arte” é um projeto internacional de arte-correio e poema processo, criado por ele, que tem ressuscitado o conceito dadaísta aplicado a situação atual. “Hoje em dia, qualquer pessoa pode fazer uns rabiscos na parede e dizer que é arte. Ou então, se jogar de um prédio ou pintar uma lona com o sangue do seu próprio corpo, etc., e afirmar que isso é arte”, disse.

Fábio di Ojuara ressalta o lado positivo do projeto, que é a liberdade de criação. Porém, o artista adverte que por outro lado, alguns artistas fazem umas coisas sem sentido, até sem responsabilidade, vendem por milhões de dólares, e quase ninguém tem coragem de questionar o trabalho, por medo de ser visto como um ignorante cultural. “Pra você ter uma idéia, já tem gente até afirmando que as artes plásticas só atestam sua própria condição de a mais perdida e desnorteada de todas as artes”.

Originalmente, a arte poderia ser entendida como o produto ou processo em que o conhecimento é usado para realizar determinadas habilidades. De acordo com o artista, a má qualidade das expressões artistas apresentadas nas mais diversas áreas, o levou a questionar os atributos para rever o que é ou não arte: “Foi por isso que criei esse projeto, para fazer as pessoas pensarem, refletirem sobre a crise que a arte está vivendo atualmente e isso está surtindo efeito”.

Fábio de Ojuara é um artista de vanguarda e um pensador inquieto. Ano passado, ele foi convidado para participar de um importante evento internacional, o Wassenkraft, que aconteceu em Gmünd, considerada a capital austríaca da arte e cultura. Ojuara ainda realizou performances na 52º Bienal Internacional de Veneza e em alguns países europeus.

O artista é natural de Ceará Mirim, cidade que pertence à região metropolitana da Grande Natal, onde criou e preside a "Associação dos Cornos Potiguares", após descobrir que fora traído por 8 anos seguidos. Sua experiência rendeu um livro, um manual para homens traídos, intitulado “Sabendo Usar... Chifre Não É Problema” (Editora Sebo Vermelho, Natal RN 2007), fruto de anos de pesquisa e suas próprias experiências.

Fábio di Ojuara disse que a repercussão do seu trabalho na Europa foi das melhores. Ele relata que chegou uma holandesa, na galeria, viu a tampa do sanitário, que ocupava um lugar de honra lá, e disse: “é verdade, a arte está perdendo sua identidade”. O artista ainda salientou que na Bienal de Veneza, a sensação era que as pessoas estavam gritando junto “toda merda agora é arte”.

O irreverente artista acredita que o sucesso de uma intervenção como essa se pode medir através da reação do público de rua e dos artistas que participavam da bienal. “Na Europa, tive a aprovação de ambos os lados. Tanto colegas, quanto pessoas não ligadas à arte. As pessoas apoiavam minha iniciativa. Em Viena, tive um reconhecimento internacional de pessoas que realmente entendem do que estão falando, pois convivem com o tema”.

Através da arte-postal, Fábio de Ojuara espalhou o projeto pelo mundo, tendo uma grande repercussão de artistas em mais de vinte países. Ano passado, junto com os artistas natalenses Falves Silva, Jota Medeiros, Anchieta Fernandes, Plínio Sanderson e Marcelus Bob, o artista ceará-mirinense realizou a primeira exposição no Beco da Lama. Conforme Ojuara, a “2ª Exibição Internacional - Toda Merda Agora é Arte”, com mais de 80 obras de artistas do mundo inteiro, aconteceu no último 8 de maio, Dia do Artista Plástico.

A definição de arte varia de acordo com a sociedade e a época. Ela muda conforme as necessidades de cada civilização, que pode separar ou não a arte, como é entendida hoje na civilização ocidental. Segundo Ojuara, as artes plásticas estão chegando a um ponto banal de conceito de arte. “Foi por isso que criei esse projeto, para fazer as pessoas pensarem, refletirem sobre a crise que a arte está vivendo as artes plásticas atualmente e isso está surtindo efeito”.

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