Fotos: AG Sued
Mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Dácio Galvão é um militante cultural desde tenra idade, acreditando na força das manifestações populares para uma mudança de conceito social. Foi presidente da Fundação Hélio Galvão e diretor do Centro de Documentação Cultural da Fundação José Augusto
Há quatro anos no comando da Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte), Dácio Galvão mudou o jeito de se fazer cultura na cidade. Democratizou o acesso a eventos culturais de qualidade, criou novos equipamentos para a população e investiu nos artistas potiguares.
Sob a gestão de Dácio, a Funcarte entrou numa nova fase com a criação de novos projetos e de novos espaços culturais para a comunidade. Destaque para a revista Brouhaha, editada desde 2005, e para a realização do Encontro Natalense de Escritores (ENE), cuja primeira edição aconteceu em 2006.
Em entrevista exclusiva à revista Papangu (e agora, ao Grande Ponto), o presidente da Fundação Capitania das Artes fala sobre o que já fez, ressalta os pontos fortes da sua gestão e aponta o que há de mais importante na política cultural natalense.
Há quatro anos exercendo o cargo de presidente da Fundação Capitania das Artes (Funcarte), o senhor achar que cumpriu o seu ideal de cultura para o município?
Nós trabalhamos muito tentando fazer o dever de casa. A busca, a abertura e a reanimação de vários setores culturais que a Capitania fez tiveram muitos êxitos. Nesse sentido, houve o cumprimento.
Qual a avaliação que o senhor faz para as ações de política cultural para a população através da Funcarte?
É um leque amplo. O grande segredo foi possibilitar aos intelectuais, agentes culturais, artistas e produtores que visibilizaram a Capitania das Artes como uma estrutura de fomento e aqui eles teriam oportunidade para compartilhar seus projetos. Se for feito uma avaliação por segmento, teremos um saldo de revitalização cultural e no setor de produção.
O senhor encorajou o calendário de eventos culturais natalense. Qual o ponto forte desse calendário que o senhor destacaria na sua gestão?
Eu acho que a política de eventos é fundamental dentro de quadro globalizante e capitalista. Acho que deve ter uma boa conciliação entre o calendário de eventos, com relações referenciais da cultura natalense, e não manter isso dentro de uma camisa de força, possibilitando que esses eventos tivessem relações de troca com outras culturas regionalizadas do País. Ao mesmo tempo, numa outra face da moeda, conseguimos fortalecer uma política pública voltada a requalificação de espaços para a produção cultural como a reintrodução do Teatro Sandoval Wanderlei na cena cultural natalense, o espaço Gesiel Filgueiredo, o Centro Cultural Chico Miséria, na Zona Norte, e a criação da Sala Caximbinho para a Banda Sinfônica. A gente não pode deixar de acrescentar dois grandes equipamentos culturais que a Natal receberá, que é o Memorial da Cidade e o Museu de Cultura Popular, na Ribeira. É difícil se estabelecer um ponto de destaque. Porém, a política cultural que prevaleceu nesse calendário de eventos foi o “Natal em Natal”, um calendário de uma grande diversidade cultural onde abrange dança, arte contemporânea, folclore, dramaturgia, música, cinema e literatura. Além das parcerias com o projeto “Goiamum Audiovisual”, com o “FestNatal” (Festival de Cinema de Natal), com os artistas no Reveillon, culminando com a festa dos Reis Magos, fechando o calendário. Acho que esse calendário de final de ano é algo irreversível para a população de Natal. Ele é visto pela população como algo consolidado. O ciclo clássico de eventos culturais em Natal se sustenta nessa tríade: carnaval, festejos juninos e o natal em Natal.
Pernambuco tem o frevo e a Bahia tem o axé, que são ensinados desde a escola primária, como forma de incutir a cultura local nas crianças. Natal e o RN não têm uma manifestação cultural própria para fazer a mesma coisa e importamos o modelo de carnaval baiano como o Carnatal. Como o senhor ver essa massificação da cultura alheia?
Quando se trabalha uma cultura de massa vinculada a aspectos mercadológicos, acho que isso é nocivo. Quando é uma cultura de massa que tem o pé calcado na identidade, ou mesmo, como diria Mário de Andrade na “entidade cultural”, eu acho que é saudável. Nesse sentido, eu tenho conhecimento através de pesquisas que o jovem na faixa de 30 anos não tem o hábito de freqüentar o Projeto Seis e Meia, que tem uma qualificação em busca de valores relativos à cultural nacional. Mas, no caso específico a que você se referiu, um evento como o Carnatal está dentro de uma campanha mercadológica. Esse evento foi aquecido durante 15 anos em cima da subcultura baiana. 99% do Carnatal é um produto de mercado, calcado na mídia sem o compromisso da identidade cultural. No ponto de vista da iniciativa privada, é um mercado livre e um modelo neo-liberal da cultura. Mas, do ponto de vista da gestão pública, eu não advogo parcerias com esses caminhos culturais.
O carnaval Multicultural de Natal tem samba, frevo, axé e até rock and roll. O senhor acredita que essa mistura de ritmos é a receita para incentivar o carnaval de Natal?
Eu não tenho dúvidas. A cada ano, a resposta da população é positiva. O diálogo com essa pluralidade, essa troca híbrida de vários ritmos, é fundamental. Considerando que nós estamos adicionando situações provocativas, como a homenagem que a Capitania das Artes fez no carnaval desse ano ao Mestre Raimundo Brasil , um grande carnavalesco que luta por uma sonoridade própria, baseada nas tribos de índios, que tem sido alijado preconceituosamente dentro do processo carnavalesco da cidade. Mas, a gente percebe que na hora que há o chamamento para as formas musicais como as propostas por Raimundo Brasil, o público aceita. Nós inauguramos em Natal a 1º Chamada do Rock no carnaval. Isso é muito saudável. Há muito tempo que Armadinho toca Rolling Stones e Jemis Hendrix misturando com Beethoven, Bach ou Tchaikovsky, junto com elementos afro-baianos, que tem sido um bom caldo. Não só para Salvador ou para a Bahia, mas também para o Brasil. Acho que esse caminho híbrido nós temos que seguir.
O senhor declarou à imprensa que as escolas de samba natalenses precisavam se profissionalizar. O que o senhor quis dizer com isso?
Na verdade, esse pessoal das escolas de samba trabalha com muita dificuldade. Ao Poder Público cabe uma parcela de participação e não de monitoramento. O que eu quis dizer é o seguinte: Hoje, há mecanismos dentro da iniciativa privada que possibilita, mesmo que autonomamente, o desempenho de projeto do ponto de vista financeiro que possam gerar independência como entidade. Eu estava me referindo as Leis de Incentivo à cultura, que ainda precisam avançar na suas limitações, mas que já estão dando mostras que podem ser bons instrumentos de canalização de recursos. E que não se crie, do ponto de vista paternalista, uma dependência do Poder Público. O Poder Público deve compartilhar a política cultural com produtores e outros parceiros do mundo artístico. Mas as agremiações, carnavalescas ou não, não podem ficar reféns do Poder Público. A Liga das Escolas de Samba, que tem certo grau de politização, já tem capacidade de buscar na iniciativa privada alguns investimentos. A partir daí, poder dialogar num outro patamar com o Poder Público. Acho que essa parceria público-privada pode redundar num bom fluxo financeiro e ter como resultado essa consciência profissional do compartilhamento.
O projeto “Goiamum Audiovisual” é um grande festival onde o cinema é privilegiado com seminário, exibições, oficinas, exposições, etc. Porém, a fotografia não está inserida nesse contexto visual. Havendo mais fotógrafos na cidade do que cineastas, quais os planos da Capitania para criar uma política de incentivo a fotografia?
O exercício da nossa ação na área da visualidade, nas artes visuais como um todo, resultou no “Goiamum Audiovisual”, demonstrando um altíssimo grau de organização dos profissionais que estão envolvidos no projeto e estão enveredados na cinematografia, em se aglutinaram para viabilizar uma parceria com o Poder Público. Os cineastas se uniram e buscaram um diálogo com o prefeito Carlos Eduardo e a partir de então surgiu a parceria. Eu diria que os fotógrafos da cidade poderiam ter o mesmo nível de absorção desse exemplo que está sendo feito pelos organizadores do Goiamum Audiovisual. Os profissionais da fotografia têm que se unir, se institucionalizar para possibilitar a abertura desse canal com o Poder Público para formalizar um convênio, que a verba seja destinada e que o Poder Público possa cumprir a sua parte.
Durante o último Encontro Natalense de Escritores, alguns intelectuais potiguares estavam reclamando que havia mais destaque para as “estrelas nacionais” do que o debate em torno da literatura norte-riograndense. Outro ponto de protesto foi o show de Zeca Baleiro que atraiu uma multidão para um local apertado. O que deverá mudar durante o próximo ENE?
O Encontro Natalense de Escritores é uma realidade que pode ser consolidada como um evento de porte nacional. Nós não compramos nenhuma mídia, mas atingimos uma mídia nacional. Eu estive na última edição da Flip (Festival Literário de Paraty) e pude ver a formatação, a estruturação e o conteúdo. Tirando os aspectos internacionais da Flip, o ENE não deixa nada a dever em conteúdo. Aliás, eu encontrei vários palestrantes que estiveram no ENE. É natural que num processo de articulação e de produção tenhamos algumas falhas. Nós temos humildade para reconhecer que a gente teria dificuldades estruturais para tocar o ENE. Acredito que maior do que essas correções é o conteúdo que fica. Nós temos dois Anais. O primeiro já foi lançado com 300 páginas com parte do pensamento literário brasileiro, onde os escritores locais dialogam com o mesmo nível de intensidade com autores nacionais numa obra de caráter permanente e intelectual. É o livro “Vozes e reflexões, Volume 1”, que significa os anais da primeira edição do ENE. Vamos lançar outro livro com um conteúdo bastante significativo, onde o equilíbrio entre os autores locais e nacionais está perfeito. É claro que o exercício do pensamento literário brasileiro, aqui eu não estou falando de Natal e nenhum localismo, tem seu conteúdo com reconhecimento não só no Brasil, mas em todo o planeta. Se os autores nacionais, por talento e por uma complexidade de fatores editoriais que seu pensamento literário já extrapolou as fronteiras brasileiras, o autor local vai ter que se contentar e respeitar essa regra. Nós não entendemos que o autor local tenha um desprestígio. No ponto de vista estrutural, nós estamos articulando para melhorar a segurança e o espaço físico. Nesse momento, estamos pensando numa abertura musical no Parque da Cidade e o evento literário ficaria na Ribeira.
O Dia da Poesia (14 de março) e os prêmios Othoniel Menezes (poesia) e Câmara Cascudo (prosa) são esperados avidamente pelas letras natalenses. O senhor acredita que esses eventos estão consolidados no calendário cultural da cidade?
Acho que sim. Quando cheguei à Fundação Capitania das Artes já havia esses eventos e a cidade já absorveu isso. Nós ampliamos um pouco o regulamento do prêmio Câmara Cascudo para possibilitar que a prosa etnográfica também pudesse competir. Há alguns reclames em relação a editoração das obras que pode ser pensado num momento subseqüente. Na verdade, o que há hoje é um prêmio financeiro. A gente percebe que para o autor é mais importante ter seu livro publicado do que o prêmio financeiro. Na linha editorial, nós lançamos as “Letras Natalenses” com um conselho editorial constituído e a revista Bouhaha, que faz um diálogo com os nossos livros editados pela Funcarte. Os prêmios Othoniel Menezes e o Câmara Cascudo têm um regulamento próprio, onde os autores já sabem que seus livros não serão publicados. Mas, há uma possibilidade de migrar esses vencedores para o plano editorial, acho que é uma boa dica.
Para alguns intelectuais e escritores natalenses, a revista Brouhaha é um marco na publicação na cidade, dentro do formato revista, onde divulga essencialmente a cultura natalense. Como surgiu a idéia para fazer a revista e por que a periodicidade não é mais freqüente?
Quando assumi a Funcarte, percebi que a Capitania das Artes precisava gerar um periódico cultural. A figura de Câmara Cascudo é emblemática nesse tipo de ação, pelo intelectual que ele foi. Como nós pensamos num viés mais literário, havia um lado de Cascudo um tanto obscuro (ou ainda há esse lado), que é a face poética de Cascudo. Através da poesia, Cascudo se relacionou com Ribeiro Couto, Carlos Drumonnd de Andrade, Mário de Andrade e o próprio Oswald de Andrade. O próprio Cascudo tinha sugerido esse nome para seu livro ao jornalista Joaquim Inojosa, um dos grandes articuladores do Modernismo no Nordeste brasileiro. Sabendo de outras tradições como as revistas Noigrandes, Corpo Estranho, Pólem e outras, nós provocamos um estranhamento na titulação da revista de forma muito consciente. Até mesmo como forma provocativa. A revista foi transitando entre a literatura e o jornalismo cultural. Quanto a periodicidade, nunca significou problemas de verbas. O que existe de fato é que a equipe editorial é composta de vários profissionais que trabalham em outros periódicos e eles têm dificuldades para gerar uma dinâmica produtiva e pontual, dentro de uma periodicidade, como nós gostaríamos e como nós recomendamos ao nosso editor Moisés de Lima. Infelizmente, o ritmo tem sido esse. Porém é bom reafirmar que em nenhum momento houve problemas com a falta de dinheiro.
Há quatro anos, o senhor lançou o livro “Da Poesia ao Poema”, onde o senhor faz uma pesquisa no mundo do poema processo. Durante a comemoração dos 40 anos do Poema Processo, a revista Brouhaha foi toda destinada ao tema. O senhor se identifica com o Poema Processo, o senhor é um poeta em processo?
O livro é fruto de um projeto que apresentei dentro do programa de pós-graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, uma tese de mestrado dentro da área de Literatura Comparada. Meu interesse pelo Poema Processo, na verdade, é uma busca de estudar com a tradição formalista e de vanguarda. Nossa pesquisa se encaminhou desde a crise do Expressionismo, com o advento do Cubismo, depois o Futurismo e as relações com a “arte concreta”. Mais tarde, com a Literatura Concreta brasileira, que é um segundo momento do Modernismo. Nesse sentido, já em 1957, no lançamento da Poesia Concreta nós temos três eventos básicos: Ferreira Gular com o neo-concretismo; Vladmir Dias Pinto com o movimento do Poema Processo; e aquela que lançou todas as bases de introdução, que é a corrente Noigrandes com Décio Pignatari, e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. A gente sabe que em 1967, dentro de um período de movimentos como a poesia Práxis, violão de rua, Tropicalismo, a Poesia Marginal em curso, o movimento do Poema Processo ganha corpo e voz. Dentro desse processo, estavam alguns norte-riograndenses como Nei Leandro de Castro, Dailôr Varela, Anchieta Fernandes, Falves Silva, Marcos Silva, entre outros nomes. Na verdade, meu interesse com essa pesquisa e publicação foi situar a produção dos nossos autores dentro de um contexto nacional, ligado a essa tradição de vanguarda. Para homenagear os 40 anos do Poema Processo, a revista Brouhaha trouxe textos exclusivos de alguns autores importantes nacionalmente. A revista não trouxe um aspecto laudatório de comemoração, mas de fixação histórica dessa produção. Essa edição da revista redundou em inúmeras manifestações espontâneas, inclusive no exterior.
A falta de memória e identidade em Natal é uma reclamação freqüente da população, seja na cultura ou na história. Para salvaguardar o que sobrou e acionar os arquivos da nossa história cultural, a Prefeitura criou o “Memorial de Natal” e o “Museu de Cultura Popular”. O Memorial e o Museu vão trazer a esperança de um novo tempo para a cultura da cidade?
O Memorial de Natal tem um ponto muito específico, trabalhando a historicidade da cidade, tendo como espinha dorsal um circuito museológico que está sendo criado. O museu pretende mostrar como o espaço territorial da cidade foi no passado, há 4000 do ponto de vista arqueológico, numa fase pré-Tupi, com a fase posterior que nós pontuamos como a fase da “conquista”, com a chegada dos portugueses. Em seguida, o período colonial e a fase contemporânea. Isso tudo com muita iconografia, dentro de uma base de pesquisa calcada em profissionais da área que são arqueólogos, historiadores, museólogos, documentaristas, arquitetos, designers, entre outros profissionais. Nosso interesse é tentar possibilitar que esse circuito museológico consiga, dentro da linguagem que estamos buscando, um equilíbrio informacional que justifique ao adolescente, ao intelectual, ao turista que visita a cidade ou o cidadão comum, que possibilite conhecer a história da cidade.
E o Museu de Cultura Popular?
O Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão é o preenchimento de uma lacuna que havia na cidade, que por si só implica uma diversidade. Dentro do museu terá um espaço para exposições permanentes ou de longa duração e outro espaço para exposições de caráter temporário. Em termos de conteúdo e testemunho material e imaterial, nós teremos uma casa de informação com nunca o Estado teve, com uma grade básica de seis núcleos: o mundo encantado do João Redondo; altos teatrais e danças; brinquedos populares; cosmografia religiosa; saber e saberes do povo norte-riograndense; e uma cordelteca. Além disso, teremos uma documentação virtual muito grande de conteúdo muito amplo. Então, nós teremos uma linguagem museológica única na cidade nos dois museus, onde a virtualidade e a museologia convencional materializada estão dialogando. Pesquisadores, intelectuais, turistas, estudantes de escolas públicas e privadas, universitários e o público em geral terão a possibilidade de se deparar com uma linguagem interativa em vários totens e terminais de computadores para consultas. Nós não estamos fazendo um museu virtual. Estamos desenvolvendo um linguagem virtual que dialogam com os testemunhos materiais de ambas as ares, seja dentro do historicismo ou na memória da cultura popular.
Pelo fato do senhor não ter ligações com partidos políticos, sendo uma indicação da cota pessoal do prefeito Carlos Eduardo para assumir a presidência da Fundação Capitania das Artes, facilita a sua gestão?
Nossa militância na área cultural é de tenra idade. Na hora que aceitei o convite para vir ocupar a cadeira de presidente da Funcarte, eu sabia que a gestão do prefeito Carlos Eduardo seria uma gestão democrática e que teria compromisso com o fortalecimento do setor cultural. Acho que todos nós que acreditamos na transformação social através das ações artísticas e culturais, permitindo ter um diálogo aberto e franco em todos os níveis de produção. Notadamente, com um grau de inserção e de parcialidade. Um partido pressupõe um estatuto, não deixando de ter suas limitações no sentido de diretrizes estatutárias. A cultura é algo que transcendo os partidos políticos. Eu creio que, independente de ideologias ou de crenças partidárias, é possível se fazer uma política pública onde a inserção daquilo que reconhecemos que é produtivo na formação e na libertação ideológica dos segmentos historicamente oprimidos e dominados, não deve haver reacionarismo e nem dogmas. Por eu não ter filiação partidária, eu tenho compromisso com a prática da transformação social via linguagens intelectuais e artísticas.
Há uma prática na nossa cultura de que sempre o próximo gestor não dá continuidade as políticas pública daquele que saiu. O que esperar do próximo presidente da Funcarte?
Aquilo que o povo – quando eu falo de povo quero dizer o povo formador de opinião – identifica que pode estar gerando algo de produtivo na área cultural, poderá ser mantido. Seria simplista esperar que o próximo gestor tivesse pra si essa responsabilidade da continuidade de alguns projetos e as ampliações necessárias de outros, porque as demandas são muito maiores do que as realizações. Ele deve ter um compromisso com a cultura e não engessar a entidade. Porém, eu penso que as ações culturais são compartilhadas e depende muito do nível de organização civil da sociedade, seja de produtores e artistas independentes, ou das organizações de cultura. A pergunta deve ser respondida pelo grau de politização de ambos (sociedade e gestão), tanto de quem vai gerir a cultura da cidade quanto dos setores produtivos. Quando maior for esse grau de entendimento, melhor será o nível de compromisso que a instituição terá. Não vai depender só do gestor.
4 comentários:
Belo trabalho o desempenhado por Dácio à frente da Capitania. Que tenha continuidade! Seja lá com quem for!
o problema dos nossos gestores é o seguinte. simples. é ter sensibilidade para perceber que quem faz arte é o artista. a FJA, a FUNCARTE não faz arte. são só entidades que precisam criar as consições para que se possa fazer arte. se o artista não existir, os eventos serão estéreis. como muitos que surgiram, cresceram e morreram. muita boa vontade, alguns empredimentos miopes e tudo continua como antes...
Dentre todos os projetos tocados pela Capitania das Artes, creio que o Carnaval Multicultural seja o de maior expressão, pelo resgate, pela busca de uma identidade e pelo pioneirismo na mistura proposta. Como disse o Lívio, "Que tenha continuidade! Seja lá com quem for!". (Antoniel Campos)
Dácio Galvão fez mágica e engrandeceu os nossos artistas e nossa arte na sua gestão, desenvolvendo a nossa cultura. Temos que agradecer a ele e a pessoa que o indicou, parabens.
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