Renato Caldas, Assu RN
Seu moço, inda me alembro
me alembro cuma ninguém:
- O tempo véio num leva
aquilo que se quiz bem,
nem hai dinheiro qui pague
um amô qui a gente tem.
Faz muito tempo, seu môço,
nós morava no sertão
e a sêca véia danasca
veio qui nem um ladrão:
furtando o verde das fôia,
rôbando as águas do chão.
E, a sêca, qui levô tudo,
qui quage acaba o sertão!
Trôve alegria, seu môço
pru meu pobre coração...
e o marvado do inverno
levô sem tê precisão.
Mecê num sabe o qui foi,
eu vô dizê a mecê:
- Um dia de tardinzinha,
ante do escurecê,
tava na porta do rancho,
pensando nem sei em quê!?
Quando aparece na estrada,
lá prás banda dos grotão,
um bando de arritirante...
Seu môço, era um bandão!
E no mei daquela gente
vinha a minha perdição.
Uma cabôca fermosa...
tão bonita cuma o quê!?
Os óio, os cabelo dela,
eram pretos de duê
e o resto daquele anjo,
num tem quem possa dizê.
Apois bem: só pruque ela
veio sê minha alegria,
Deus de inveja, de ciúme,
mandô chuvê todo dia...
Inrolô um mez chuvendo!
Quage a terra amolecia.
Ficô logo tudo verde!
Logo, os riacho correu.
A cabôca foi simbora
cumtudo qui era seu
e ainda levô cum ela,
argum pedacinho meu.
Levô foi tudo, seu môço:
a alegria do Sertão,
as notas desta viola,
o batê do coração
desse cabôco sarado
nascido na no Grotão.
É, cuma quem tem, seu môço,
uma vasante aprantada...
Adespois, vem uma enchente,
leva tudo na inxurrada.
- Apôis eu tinha nos peito,
uma vasante aprantada.
Ah! Inverno miseráve,
inverno véio ladrão!
Truvésse o verde das fôia,
truvésse as águas do chão.
Mas, carregô na inxurrada,
o meu pobre coração.
Um comentário:
Parabéns pelo blog. E obrigado pela força.
"Inxurrada mardita" é do grande poeta assuense Renato Caldas.
Abraço,
Jean Lopes
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