5 de janeiro de 2009

Entrevista com Adrovando Claro

Foto: Cláudio Marques
Nascido em Natal, nos anos turbulentos de 1964, Adrovando Claro de Oliviera é um dos repórteres-fotográficos mais conceituados do Estado. Graduado em Educação Artística, especializado em Educação de Jovens e Adultos, pela UFRN, Adrovando Claro é diretor da Associação Potiguar de Fotografia (Aphoto) e um grande incentivador da fotografia praticada no Rio Grande do Norte

Como descobriu a arte fotográfica?
Já fotografava desde criança com uma câmara Kodak Instamatic nos anos 70. Depois, para complementar meu curso de Artes, me inscrevi em Fotojornalismo como disciplina complementar. Assim, eu fui conhecendo como funcionava uma câmara 35 mm e aprendendo a fotografar e a revelar preto e branco. Quando me formei na UFRN, ainda fiquei freqüentando o laboratório de fotojornalismo da UFRN, graças a amizade com o professor Aderson França e o funcionário Evaldo, que me muito me ajudaram a gostar de fotografia. Fiquei mais ou menos um ano freqüentando os horários ociosos do laboratório, até comprar meu próprio laboratório preto e branco e trabalhar em casa.

Quais os campos que você atua na fotografia?
Desde o início, me identifiquei pelo fotojornalismo, essa coisa da fotografia impressa, publicada em jornal ou revista. Em 1992, participei da criaçao de um jornal com um grupo de alunos de Jornalismo, a Gazeta de Macau, que era editada em Natal e distribuída na cidade de Macau. Aluisio Viana, Eugenio Parcelle, Margareth Grilo, Moises (hoje no Diário de Natal), Juliano (que trabalha com assessoria de imprensa), Antonio Degas e outros alunos em final de curso da UFRN, se aventuraram neste projeto, que serviu para todos nos como um laboratório e também como ter maturidade para enfrentar uma redação. Acho que isso falta aos concluintes de jornalismo hoje em dia, a turma é muito acomodada, e fica esperando vagas nos jornais diários em vez de buscar seu próprio espaço com a criação de jornais ou revistas de bairros na capital ou ainda nas cidades do interior onde não há ainda acesso a imprensa.

O que um bom fotógrafo precisa saber?
É essencial ter uma pratica quase diária da fotografia para ser cada vez mais dinâmico na escrita do olhar. Porque sem saber como observar uma cena, sai apenas uma foto comum, sem atrativo. Ler bons livros sobre o assunto também ajuda, mas se não ficar fotografando sempre, acaba sem condicionar o olhar ao que se passar ao redor. Ser um observador, tipo um franco-atirador, saber olhar longe e selecionar o que interessa para fotografar. Um fotógrafo precisa ser como um pistoleiro, rápido, discreto e competente para alcançar o objetivo. Só que o fotógrafo não mata, com seu olhar e uma boa câmara, ele apenas eterniza uma cena, faz historia com a luz.

Como é olhar o mundo pelo visor de uma câmera fotográfica?
É ter um pouco de conteúdo para saber o que esta sendo fotografado. Aquele tema precisa despertar uma seqüência de fotos que permite ao que não estava na cena, descobri pelos olhos do fotógrafo, uma historia de um momento, de um instante. E cada qual tem uma formar de olhar o mundo, seja fotografando um evento onde está a autoridade máxima de um país ou apenas um anônimo, em um ambiente de favela, sarjeta, dor ou esquecimento.

Até que ponto a fotografia é uma arte?
Quando o fotografo transporta seu conhecimento para a imagem, sabe enquadrar, compor a cena com determinadas regras básicas, trazendo beleza à foto.

A popularização das máquinas digitais está ampliando o quadro de fotógrafos atuando como profissionais?
As câmaras digitais se dividem em duas categorias: as compactas, que são limitadas, e as profissionais, que também tem uma graduação de qualidade de acordo com suas marcas. Quem tem uma câmara compacta pode fazer uma foto interessante, mas jamais vai ter a qualidade de uma câmara reflex digital. Para ser profissional também precisa ter bagagem, tempo de fotografia e total conhecimento do que seu equipamento pode render para obter melhores imagens. Um profissional de fotografia não se faz do dia pra noite. Mesmo com uma excelente câmara, precisa de produçao e uma variedade de testes para saber se já esta no ponto de ganhar dinheiro com a fotografia. Geralmente, se escolhe uma área. Essa conversa de ser bom em um pouco de tudo não funciona em fotografia. É melhor se especializar numa área e se aplicar nela.

Como você está vendo esse novo momento da fotografia potiguar?
Esta renascendo uma época de ouro, iniciada nos anos 90 com a criação do jornal O Foco, um jornal voltado para fotografia, criado por mim, Caninde Soares e Fernando Pereira. Na época, havia o espaço Babilônia, em Ponta Negra, que realizou muitos eventos de fotografia.

O Rio Grande do Norte abriga bons fotógrafos. Quem você destacaria que vem desenvolvendo bom trabalho dentro da fotografia potiguar?
Há muita gente boa. Particularmente, acompanho mais o pessoal de imprensa e publicidade, mas vou citar apenas como exemplo alguns mais próximos que conheço: Canindé Soares (hoje, seu blog é uma referencia na imprensa); Jean Lopes, Humberto Lopes e Luis Carlos (na publicidade); Evaldo Gomes (foto de shows); além de Henrique José, Max Pereira, entre outros. Tem uma turma jovem que esta começando a mostrar serviço, aparecendo em exposições e se destacando na imprensa.

Com um dos diretores da Associação Potiguar de Fotografia (Aphoto), o que você destacaria das ações da entidade em 2008?
Destaco os passeios as cidades do interior, uma espécie de “City Photo”, redescobrindo lugares com um grupo fotografando o que ha de mais interessante nas cidades. Acredito que isso no futuro poderá render bons frutos a Aphoto, inclusive com a publicação de livros, em parcerias com as prefeituras.

O que a Aphoto está planejando para 2009?
Um calendário de eventos fotográficos, ou seja, todo mês haverá sempre uma atividade para os associados participarem.

Qualquer fotógrafo pode se associar a Aphoto? Como é o procedimento?
Qualquer pessoa interessada em fotografia tem vez na Aphoto. Para isso basta ir à sede da entidade, na Rua Laranjeira, 14, Cidade Alta, em Natal e preencher uma ficha de associado, além de pagar uma taxa de anuidade.

A entidade planeja fazer uma campanha de filiação em Mossoró?
Há muito tempo estamos tentando ter uma pessoa para representar a Aphoto em Mossoró. Mas, até o momento parece que nosso esforço não alcançou êxito. Alguém de fotografia que reúna as pessoas interessada e comece a fazer atividades com fotografia em Mossoró. Aproveito o espaço para os interessados desde já fazerem um contato conosco pelo email da entidade (apofoto@gmail.com). Com a filiação destas pessoas, nós poderemos abrir uma representação na cidade.

O que está faltando para integrar os fotógrafos de Natal, Mossoró, Caicó, Assu, Pau dos Ferros, entre outras cidades?
Talvez um grande evento de fotografia para que os interessados possam aceitar o desafio de abrir representações na cidade de origem. Talvez uma semana de fotografia, um seminário ou uma mostra coletiva com bons prêmios que atraiam fotógrafos de todos os lugares do Estado.

Os órgãos de imprensa têm cumprido a legislação dos Diretos Autorais e dado o devido crédito aos repórteres-fotográficos?
Agora um pouco mais. Mas, ainda é comum ser publicado algo do tipo “arquivo” ou “divulgação” no lugar dos créditos. Ás vezes, a foto foi feita por um profissional da própria empresa. É um desrespeito. Isso mostra a falta de catalogação das fotos, a falta de organização do arquivo. E o próprio fotógrafo deve ter noções básicas de photoshop para saber colocar o crédito no arquivo digital das fotos que fez. E claro, cobrar sua autoria. Quando não se sabe quem fez as imagens, seria correto colocar: "autoria desconhecida".

Como você está vendo a ação dos cursos de fotografia no RN?
Os cursos estão aumentando o nível dos fotógrafos, sejam amadores ou profissionais. Qualquer nova informação a respeito de fotografia tem importância para quem tem interesse pelo assunto. Além da troca de informações, intercambio com colegas, participação coletiva de mostras, passeios, etc. Os cursos só têm melhorado a fotografia do Rio Grande do Norte.

Qual conselho você daria para quem quer começar a fotografar?
Inicie com um equipamento básico, pode ser câmeras compactas. Tente fazer um curso de fotografia, se não puder, compre alguns livros sobre o assunto e vá fotografando e fazendo uma autocrítica do material. De início, não delete as fotos ruins, deixe para fazer uma avaliação mais precisa quando colocar nos arquivos do computador. Assim vai descobrindo onde melhorar. Escolha um tema de estudo para aprender como fotografar, seja uma feira livre ou um evento. Faça uma seqüência de imagens de vários ângulos e vá estudando. Uma pratica de fotografia abre muito a observação do autor. Alem disso, é um registro da memória, da nossa historia contemporânea.

2 comentários:

Anônimo disse...

A entrevista do professor Adrovando Claro foi excelente. Pareceu-me, assim, uma espécie de aula de introdução ao ensino da fotografia.
Ótima.
Qualquer dia irei à APHOTO fazer minha filiação.

Ubiratan de Lemos disse...

Adoro fotografia, mas não ouso auto-denominar-me fotógrafo(nem amador). Pelo pouco que li sobre o assunto, concordo com o Prof. Adrovadro, não são alguns cliques por aí que fazem um fotógrafo.