4 de fevereiro de 2009

O parâmetro da crise

ARTIGO
Eduardo Alexandre

Vivendo, como nós vivemos, esses tempos de tantas mentiras numa era marcada pelo mascaramento de tudo, maquiagens bem feitas e blindagens perfeitas para o acobertamento da razão e da ciência dos fatos que nos atingem, fico a matutar qual o azimute a ser tomado para medir a marolinha que, parece, chegou ao nosso litoral depois de atravessar o Atlântico.

O Rei Momo de uma banda de carnaval tradicional da cidade foi para a balança e cravou exatos 48,60 quilos. As roupas do Rei, claro, nessa época de dificuldades financeiras mundiais, não puderam ser repostas nem o dinheiro deu para cobrir o que a costureira pediu para a reforma. O remédio foi convencer o Senhor da Alegria a se contentar com um cinturão novo, bem menor que aquele que usou em carnavais passados.

As roupas lhe sobrarão pelo corpo. Mas, o que fazer se não queremos maquiar o Rei, pelo menos esse de Momo, nem entupir suas vestes de enchimentos?

Mas rei que é Rei não é parâmetro de verdades sociais ou econômicas. O financeiro de uma nação não pode ser medido pelo peso ou aparência de seu rei gestor, muito menos o de momo.

Como medir a marolinha, então?

Eu estava nesse dilema quando me chegou uma informação sem aparente muita importância: a Pitú, assim com o u gravemente acentuado, resistindo a tantas reformas ortográficas, reduziu drasticamente o patrocínio que costuma proporcionar aos carnavalescos brasileiros. As camisetas de blocos, que chegavam às centenas, agora minguaram para poucas dezenas; os muitos litros da aguardadente antes distribuídos fartamente para a festa, agora precisam de recipientes para que sejam recebidos.

Aí, o estalo: se a crise atingiu a Pitú, a marolinha pode ser uma tsunami a lavar hábitos bem brasileiros, como o de beber a mais bebida cachaça país afora.

Quando levei essa conversa ao Beco boêmio, o pinguço do balcão desceu do alto do seu tamborete e me encarou:

- Pense num parâmetro sóbrio!

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