28 de março de 2009

Dona Militana continua internada com hipertensão e problemas respiratórios

Dona Militana sofre sérios problemas de saúde e continua internada num hospital em Natal.

Foto e texto: Alex Gurgel

Os mestres do folclore potiguar estão morrendo. Já se "encantaram" os três maiores do folclore potiguar: Manoel Marinheiro do Boi de Reis, o mamulengueiro Chico Daniel e Cornélio Campina do grupo Araruna.

O último baluarte do folclore norte-rio-grandense ainda vivo é a romanceira dona Militana, de São Gonçalo do Amarante, que anda esquecida pelos órgãos ditos culturais do nosso "Rio Grande sem Sorte".

A romanceira dona Militana tem a saúde debilitada e foi internada no Hospital do Coração com hipertensão e com grave problema respiratório. Dona Militana recebe todas as atenções necessárias da equipe médica e passa bem.

Ao ter conhecimento da situação de dona Militana, a atual administração municipal determinou que uma equipe acompanhasse de perto a situação da romanceira. "Dona Militana é um dos maiores patrimônios da nossa cidade. Vamos dar a dignidade e o respeito que ela merece", afirmou o prefeito Jaime Calado.

O prefeito ainda enviou à Câmara Municipal um projeto de lei criando uma pensão vitalícia para dona Militana de R$ 1.500,00 dando a ela independência financeira para evitar mais constrangimentos. "É o mínimo que nossa cidade pode fazer por ela", disse.

Uma vida de romances

De acordo com o folclorista Deífilo Gurgel, dona Militana é a figura mais importante do romanceiro popular brasileiro. Sua memória, embora ela tenha 84 anos, ainda guarda um considerável acervo, o que faz dela uma enciclopédia viva da cultura popular potiguar.

Em 2005, dona Militana foi condecorada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como uma das mais importantes romanceiras do Brasil, sendo considerada a principal guardiã do romanceiro medieval nordestino.

Dona de uma memória privilegiada, capaz de recitar longos enredos do romanceiro nordestino ouvidos na infância, Militana Salustino do Nascimento nasceu em 1925, em Santo Antônio dos Barreiros, município de São Gonçalo do Amarante.

De origem humilde, negra, sem escolaridade, aprendeu a cantar romances ibéricos e nacionais com o seu pai, Atanásio Salustino do Nascimento, quando trabalhava na roça.

Militana canta seus romanceiros numa cadência que lembra o cantochão, com ritmo baseado na acentuação e nas divisões do fraseado. Na maioria das vezes, as narrativas cantadas são histórias trágicas, como a do "Conde de Amarante", em que a esposa chora a ausência do marido, enquanto dá ao filho o leite da amargura e se despede da vida.

Em 2000, ela gravou o CD triplo "Cantares", no qual interpretou cocos, romarias, desafios e fandangos em temas como "Romance da bela infanta", "O mouro e a estrangeira", "Inácio da Catingueira", "Boi mandingueiro", "Romance de reis", "Mulher malvada", "Coco da lagartixa", "Manuel Passarinho" e "General dos Marotos".

Esse trabalho contou com as participações de Antônio Nóbrega, além de Mestre Salustiano e Eusébio Macaíba nas rabecas, Roberto Corrêa na viola, Dolores Portela no cravo, Luca Reale no clarinete e o maestro Osvaldo D' amore da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte no violino.

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