14 de março de 2009

Os primeiros aedos potiguares

por Alexandro Gurgel

A preocupação com a Literatura praticada no Rio Grande do Norte ao longo do tempo começa a ser registrada tardiamente em 1897, por um jovem estudioso chamado Antonio Marinho, que se propôs a fazer um balanço na produção literária potiguar até então, em artigos inscritos nas páginas de “A Tribuna”, tipo de revista cultural de uma associação denominada Congresso Literário.

Em 1921, Câmara Cascudo fazia um brilhante trabalho de pesquisa em “Alma Patrícia”, reforçando o trabalho de Antonio Marinho. Mais tarde, Ezequeiel Wanderley reuniu mais informações no seu livro “Poetas do Rio Grande do Norte”, quando deu ‘maior destaque aos poetas do que aos romancistas da época’, de acordo com alguns estudiosos da Literatura Potiguar.

Alguns escritores acreditam que o autor foi levado pela emoção quando fez a seleção de autores para o livro. “Certamente para justificar nossa fama de Terra dos Poetas”, escreveu o professor Tarcísio Gurgel, no seu livro “Informação da Literatura Potiguar” (Argus, 2001, Natal RN).

Conforme toda essa a historiografia literária, Lourival Açucena é considerado o primeiro poeta do Rio Grande do Norte. Nasceu em Natal a 17 de outubro de 1827 e faleceu na mesma cidade a 28 de março de 1907. Embora não tenha publicado livro, foi o primeiro poeta a construir toda uma obra. Anos depois, seus poemas foram reunidos por Câmara Cascudo, em obra póstuma, sob o título "Versos" (1927, 2. ª ed., Natal, Editora da UFRN, 1986).

Merece destaque uma escritora potiguar que passou 28 anos na Europa e se tornou célebre pela sua luta a favor do soerguimento da mulher. Dionísia Gonçalves Pinto, mais conhecida pelo pseudônimo Nísia Floresta, nasceu no sítio Floresta, em Papari (hoje Nísia Floresta, em sua homenagem), no dia 12 de outubro de 1810, falecendo na França, em Rouen, a 24 de abril de 1885.

Falando sobre Nísia Floresta, a escritora Maria Eugênia Montenegro classificou-a como “ilustre pensadora e idealista, a autodidata, a revolucionária, a enfermeira, a jornalista e abolicionista e republicana, que pregava a igualdade das províncias e das casas”, (Revista Brasília, no LXX, abril - maio de 1996).

Luís Carlos Lins Wanderley é o autor de “Mistério de um Homem”, em dois volumes. É apontado por alguns intelectuais da UFRN como sendo o primeiro romance escrito no Rio Grande do Norte. No movimento abolicionista, brilhou Segundo Wanderley. Depois, vem a “geração do Oásis”, como disse Câmara Cascudo, que “nasceu literalmente com o advento republicano”. Dessa fase se destacaram dois irmãos poetas: Henrique Castriciano e Auta de Souza.

Entra o século XX e começa a frase conhecida como “Oficina Literária”, onde se destacaram Francisco Cavalcanti, Jorge Fernandes e Clementino Câmara. Um grande poeta dessa geração foi Manoel Virgílio Ferreira Itajubá, que não teve livro publicado em vida. Embora houvesse produzido o suficiente para mais de um volume de poesia.

As inquietações poéticas explodindo no século XX

O início do século passado foi uma época de grande efervescência literária, onde brilharam nomes como Nascimento Fernandes, Anfilóquio Câmara, Armando Seabra, Jayme Wanderley. Segundo o professor de Literatura do Rio Grande do Norte, na UFRN, Humberto Hermenegildo, publicaram-se, naquela década, alguns títulos que ainda hoje são de fundamental importância para a compreensão do início da nossa vida literária, como: “Alma patrícia” (1921) e “Joio” (1924), ambos de Luís da Câmara Cascudo; “Poetas Rio-Grandenses do Norte” (1922), de Ezequiel Wanderley, “Versos” (1927), de Lourival Açucena e “Terra Natal” (1927), de Ferreira Itajubá.

Em novembro de 1936, Câmara Cascudo fundou a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, atendendo a um apelo da Federação das Academias de Letras, na sede do Instituto de Música, sendo eleito Henrique Castriciano, presidente. Entre os fundadores da academia, podem ser citados os seguintes intelectuais: Adauto Câmara, Otto de Brito Guerra, H. Castriciano, Edgar Barbosa, Antonio Soares de Araújo, Nestor dos Santos Lima, Januário Cicco, Floriano Cavalcanti, Luis Gonzaga do Monte.

Um dos mais consagrados poetas do início do século passado foi Jorge Fernandes, considerado um Modernista de primeira hora. Alguns professores da UFRN costumam dizer que Jorge Fernandes fez poesia modernista na própria “fase heróica” e, na época que Jorge Fernandes lançou seu “Livro de Poemas”, a idéia de modernismo ainda era muito frágil no Brasil, sobretudo, no Rio Grande do Norte.

De acordo com os estudiosos da literatura local, Jorge Fernandes foi recomendado por Manoel Bandeira, tardiamente, quando soube da poesia jorgiana, escrevendo em carta ao jornalista Veríssimo de Melo: “Precisamos urgentemente da poesia do poeta Jorge Fernandes. Urgentemente!” O poeta Jorge Fernandes teve seus textos veiculados nas principais revistas modernistas paulistas, no clamor do Modernismo.

No final dos anos 60, surgiu um movimento literário, provocando um impacto no Rio Grande do Norte e também no Brasil: o lançamento simultâneo em Natal e no Rio de Janeiro do Poema/Processo. Em Nanatal, o movimento era capitaneado por Moacy Cirne, Anchieta Fernandes e Nei Leandro de Castro e no Rio de Janeiro por Vladimir Dias Pintos.

Entre os poetas que se destacaram na vida literária potiguar e que faleceram numa época não muito distante, podem ser citados: Myriam Coeli, natural de Manaus, porém, norte-rio-grandense de São José de Mipibu por opção. Seu livro de estréia, “Imagem Virtual” (1961), foi escrito em parceria com seu marido, Celso da Silveira que, como ela, também fazia versos, além de atuar como jornalista.

Outros trabalhos de Myriam Coeli são "Vivência sobre Vivência" e "Cantigas de Amigos" (1980). Outra poetiza potiguar de destaque é Zila Mamede, que nasceu na vizinha Paraíba, em Nova Palmeira, vindo para Natal no ano de 1935. Seu primeiro livro, “Rosa de Pedra”, é de 1953. Zila ainda publicou “Salinas” (1958), “Navegos” (1978), entre outros.

A Literatura do Rio Grande do Norte é acanhada, porém aos poucos deixa de ser latente para se tornar leitura obrigatória para aqueles que querem conhecer as Letras Potiguares. Como diria o literato Antônio Candido, no clássico “Formação da Literatura Brasileira”, comparada às grandes, a nossa literatura é pobre e fraca. Mas, é ela, não outra, que nos exprime. Se a Literatura Norte-riograndense não for amada, não revelará sua mensagem e se não a amamos ninguém o fará por nós.

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