3 de maio de 2009

Morre o filósofo do Beco da Lama, Helmut Cândido

AG Sued
Essa é uma notícia que o Grande Ponto não gostaria de postar. Na manhã do último sábado, morreu o poeta e filósofo José Helmut Cândido. Com 76 anos, ele já estava internado no Hospital do Coração, em Natal, desde o início do ano e lutava muito contra um câncer.

De poucas palavras, era seu costume perambular pelas vielas e bares do Beco da Lama, onde era fácil ser encontrado tomando umas talagadas de cachaça. Era no chão sagrado do Beco que Helmut gostava de filosofar e escrever seus poemas. Suas tiradas filosóficas eram de graça, mas os poemas eram vendidos a R$ 2 cada.

A notícia do falecimento do filósofo Helmut Cândido chegou aos becodalamenses no último sábado, durante as comemorações pela vitória nas eleições da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências (Samba). Entre um gole e outro de cerveja, o cineasta Augusto Lula, eleito o novo diretor executivo da entidade, lamentou a morte do filósofo

Um comentário:

Anônimo disse...

Morre o filosofo das ruas, levando consigo uma sabedoria introspecta, mais inegável e pura.

Diferente, andarilho, nômade, sem regras, sábio, enigmático, amante da musica clássica, pintor, poeta, auto ditada, quanta diferença dos padrões convencionais?!
Por motivos não esclarecidos ou não convincentes, foi diagnosticado como esquizofrênico, passando grande parte da sua vida confinado em manicômios e sedado com drogas para esse diagnóstico.
Devido a dessa descriminação social, foi esquecido pela maioria dos familiares e percebido apenas como uma pessoa a margem das relações e do convívio familiar.
Apesar desse sombrio carma e doloroso desprezo, sobreviveu e nos ensinou o quanto ele era amável e sabia respeitar as verdadeiras amizades. O seu código de honra, ele nunca quebrava.

Mesmo aprisionado em um leito hospitalar, para tratamento de um Câncer que o consumia, longe das ruas, do beco da Lama, de Abimael, dos livros, da cachaça e do cigarro, ele não esboçou grosseria, irritação ou loucura em nenhum momento. Foi então que ele nos deu uma lição ímpar, de paciência e entendimento sábio: Ele conscientemente sabia , que as pessoas estavam ali por ele, para tratar dele.
O que mais me marcou foi que, mesmo sem dizer uma só palavra sobre o tema, ele me fez perceber que vivemos numa sociedade hipócrita, egoísta,conduzida e fascinada pelo materialismo das regras ditadas por uma imprensa/mídia capitalista onde se divulga o que rende mais dinheiro.
Durante cerca de 60 (sessenta) anos, Ele não cobrou nada de ninguém, pois talvez achasse que não merecia.
Meu caro Tio, Helmut, quem fomos ou quem somos para te julgar?

Perdoe-me por não ter lhe atendido melhor nas ocasiões que você me procurou com doenças na maioria às vezes simples, mais que hoje tenho a certeza que o melhor remédio seria o acolhimento, o afago, a compreensão.

Peço Desculpa a Deus por Eu ter lhe dado tão pouco, quando você merecia tanto.