7 de junho de 2009

Entrevista com Hugo Macedo


De que maneira você despertou para a fotografia?
Na maneira do ofício. Nos anos noventa eu tive a oportunidade de viajar e visitar muitas praias e sertões potiguares. Impactado com a beleza dos lugares, contei para amigos que já estudavam fotografia, e aí alimentamos a idéia, comprei uma Nikon e sai registrando tudo, mas tudo o que se via pela frente. Até cururu.

Você gosta de fotografar o sertão, principalmente o Seridó. O que representa a imagem seridoense?
O berço. Pra mim, é uma verdadeira garapa fotografar o Seridó, pois foi lá aonde eu nasci e vivi quase toda minha infância. São recordações muito prazerosas: tomar banho nos açudes e rios nas invernadas; viajar pra fazenda na fubica de meu pai e ficar ali, à noite, no alpendre da casa grande atento às estórias mal assombradas da velha Biba. Tudo está armazenado na memória, e um dia elas brotam, quem sabe, através da fotografia.

Qual o segmento fotográfico você gosta de trabalhar? (retrato, still, paisagem, book, marketing, moda) E por quê?
Apesar de trabalhar hoje em outros segmentos, sou apaixonado por paisagem e natureza. São os meus preferidos e me considero bastante preparado, até porque comecei na fotografia através destes dois segmentos.

Quantas exposições na sua carreira? Quais as mais importantes?
Já perdi as contas, mas acredito por volta de vinte. A mais importante, sem dúvida, foi a primeira, que fiz na minha terra Parelhas. Sem pretensão alguma, fiz um registro temporal sobre a cidade e as pessoas. Foi um sucesso! Talvez tenha sido o impulso para o meu seguimento na fotografia. Gostaria de contar um fato que ocorreu nessa exposição, que jamais esquecerei. No lançamento, levei minha nova câmera para registrar o evento e deixei ela um pouco solitária, num canto, e fui especular as falas das pessoas para sentir o termômetro da aceitação. Me posicionei por trás de dois adolescentes quando vi um olhar para o outro, apontar com a cabeça para a câmera que estava distante e dizer: Também, uma câmera daquelas, até eu.

Atualmente, você está participando da exposição “Coletivo Potiguar” que vai percorrer algumas cidades do sul do Brasil. Como está sendo essa exposição?
É uma exposição com trabalhos de nove fotógrafos que atuam no Rio Grande do Norte, como Erik Van Der Weijde, Jean Lopes, Karen Montenegro, Max Pereira, Numo Rama, Pablo Pinheiro, Ricardo Junqueira e Zé Frota. “Fotografia Contemporânea Potiguar – Imagens da esquina do Brasil”. É um projeto de pesquisa histórica e análise crítica sobre a produção fotográfica potiguar. Será uma oportunidade ímpar poder mostrar o que está sendo feito por aqui, a um público que gosta, aprecia e valoriza. A exposição já está em cartaz na Caixa Cultural da Avenida Paulista desde 15 de maio. De 09 a 15 de junho estaremos em São Paulo para os últimos dias da exposição, e depois vamos para o Rio de Janeiro e Brasília, onde daremos palestra e workshop.

Você ainda está programando algumas exposições pelo interior paulista. Como será essa série de exposições fotográficas?
São Paulo é um mundo de oportunidades. Um curador de lá foi à exposição, anotou o endereço do meu site para conhecer o meu trabalho e me ligou sugerindo fazermos uma exposição paralela sobre o sertão, nas cidades de São Paulo e Atibaia. Montamos a idéia e estou levando uma exposição sobre o Seridó.

O que um bom fotógrafo precisa saber?
Da técnica, ler muito sobre arte, sempre assistir filmes, ir com freqüência a espetáculos, enfim, ver estudar ver estudar.

Como é olhar o mundo pelo visor de uma câmera fotográfica?
É ver na forma bidimensional os limites das extremidades e projetar na perspectiva a tridimensionalidade.

Com a popularização das máquinas digitais está ampliando o universo de fotógrafos amadores atuando como profissionais?
Sim, isso está ocorrendo, mas aí pode morar um perigo. Hoje todo mundo se diz fotógrafo, mas não conhece sequer as configurações de sua câmera. Alguns amadores devem ter em mente que o universo de conhecimentos sobre a fotografia é muito vasto. Portanto, não é convincente colocar a câmera no modo de exposição automático e sair clicando e dizendo que é fotógrafo. Estou a quinze anos estudando fotografia e tenho certeza que preciso estudar mais. É uma profissão que não enjoa, sempre terá algo novo a sua frente. O fotógrafo que não acompanha as atualizações do mercado está predestinado ao fracasso. Quero deixar claro que me refiro aqui ao mercado de fotografia.

O que faz um bom fotógrafo: o equipamento de ponta ou o acúmulo de conhecimentos teóricos?
Vou reformular a sua pergunta: O equipamento faz diferença? Ou um bom fotógrafo é a única coisa que importa? Eu nunca entendi a tese defendida por alguns que dizem que o equipamento não faz diferença? Como assim? Aliás, não apenas na fotografia, mas em qualquer atividade humana, qual é a profissão em que o equipamento não faz diferença? Entre meus amigos estão médicos, que poupam e batalham para comprar os melhores instrumentos e os mais precisos monitores. Um deles chegou a me dizer, há menos de um mês: "quero que você faça este exame na clínica do fulano, pois lá o equipamento é melhor, mais sensível". Tenho um amigo pintor. E dos bons. Vive de sua arte. Já faz tempo em que tivemos uma conversa onde ele me explicou como é importante empregar a tinta certa e o pincel correto para se obter o resultado planejado. Eu não entendi muita coisa das tecnicalidades apresentadas por ele, mas uma coisa ficou clara: ali, na minha frente, estava um conjunto de pincéis e tintas de primeira linha.

E na fotografia?
Ah não, na fotografia a única coisa que importa é o olhar do fotógrafo. Fotógrafo bom faz boas fotos com qualquer equipamento, qualquer que seja a condição. Primeiramente, vamos qualificar as coisas. Olhar e sensibilidade são requisitos básicos de todo fotógrafo, assim como alguns conhecimentos técnicos. Saber o que é f2.8 e qual a diferença entre 1/100 e 1/400 no obturador está, para o fotógrafo, assim como saber amarrar a chuteira está para o Ronaldinho Gaúcho. É o feijão com arroz. Todo fotógrafo precisa disso para aspirar algum sucesso.
Como você está vendo esse novo momento da fotografia potiguar?
Com esperança e otimismo. O Rio Grande do Norte talvez seja o estado do Nordeste com maior evidência na fotografia. Temos bons fotógrafos profissionais e uma efervescência na área dos amadores. Juntam-se a isso os clubes e associações de fotografia que dão suporte aos interessados.

O Rio Grande do Norte abriga bons fotógrafos. Quem você destacaria que vem desenvolvendo bom trabalho dentro da fotografia potiguar?
Nomear é complicado, mas, para não fugir da pergunta, gosto muito de Giovani Sérgio e Ricardo Jungueira.

Para quem quer começar a fotografar, qual o conselho que você daria?
Se for para aprender de verdade, aconselho comprar uma câmera semi-profissional, participar de cursos e ler muito sobre fotografia. Depois as coisas fluem por osmose.

Afinal, para que serve a fotografia?
Serve para chocar. Quantas palavras seriam necessárias para expressar o que uma boa foto consegue dizer? Eu estava na casa de uma amiga e, de forma espontânea, flagrei o filho dela admirando uma foto da própria família. Eu estava passando pela sala quando vi essa cena. Ele nem se perturbou, tão concentrado estava. A cena é só um pedacinho da resposta para a questão, que sempre estará em aberto.

2 comentários:

Lívio Oliveira disse...

Um dos grandes da fotografia no RN!
Parabéns, Alex, pela entrevista com Hugo Macedo!

Tekasdesigner disse...

Muito bom está conhecendo mais sobre os fotógrafos potiguares.. confesso que cheguei a pensar que o ramo de fotografias aqui era escasso. Parabens.