Virgulino
a Manoel Onofre Jr.
I
A estrela como um ultraje no chapéu.
Já não bastava ? Em sua carne fria
trazia assinalado outro troféu:
a morte, essa jocosa companhia.
No horizonte de pedra e cascavel
pressagiava, ao sol, o irado Dia;
mais aquém as pegadas de Lusbel
- que o seu único olho entrevia.
Acovardado, sim. Mas que esperto !
Adotara o punhal, o chão deserto,
o rosário, o bornal e a quizília.
Esconjurava a noite e a quadrilha
dos remorsos. Mas Deus (que é santo velho)
decretou a irrisão como evangelho.
II
Decretou a irrisão como evangelho.
Que deus cego engendrara tal maranha ?
Amancebado, a infâmia o acompanha
qual máscara grudada ao rosto - espelho.
A treva o cerca, a caatinga o estranha,
reza o ofício e clama de joelho,
venha a benção do céu, fel da entranha,
que o mais é sem conserto, ó mundo velho.
Uma carabina em cada mão, o rim
cingido por um cinturão de balas.
Maldiz-se e baba, corta a sua fala,
da chaga exposta escorre o sangue ruim.
Pressente ao lado o Demo, seu igual,
e ensaia no deserto o carnaval.
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