27 de abril de 2010

EELP - Mai embromação do que renovação

ARTIGO

Antonio Nahud Júnior (*)

Participei como escritor-convidado de dois proveitosos encontros de literatura lusófona: o primeiro em Sintra, Portugal, no final dos anos 90; o segundo, na Ilha de São Miguel, nos Açores, anos depois. De olhos e ouvidos bem abertos, honrado por estar ao lado de artesãos da palavra, aprendi – e muito - com nomes excepcionais como Mia Couto, José Craveirinha, Pepetela, Germano de Almeida, Vasco Graça Moura etc.

Portanto, só posso ficar pasmo com a tímida programação oficial do 1º Encontro de Escritores de Língua Portuguesa em Natal (EELP). Afinal, nem de longe traduz o evento alardeado pela Fundação Capitania das Artes (Funcarte), ou seja, de união e difusão da cultura lusófona. O talentoso angolano José Eduardo Agualusa representará todas as feras estrangeiras de língua portuguesa? O meu conterrâneo João Ubaldo Ribeiro levará nas costas a ausência de figuras expressivas da literatura brasileira? Grande responsabilidade. Cadê os mais conceituados emissários da palavra de Moçambique, Timor-Leste, Cabo Verde, Angola, Portugal e Guiné Bissau? Quais os resultados positivos que serão extraídos deste desencontro lingüístico/literário em hora tão ingrata e com tantas ausências sentidas? Serão concretizados projetos culturais que visam o bem de todos?

Para além das conferências, não se vê no EELP lançamentos de livros, workshops, leituras, espetáculos de teatro, exposições de artes plásticas etc. Está mais para reunião de notáveis escritores/jornalistas do Rio Grande do Norte com duas ou três ricas belezuras de fora para enfeitar o bolo, justificando a grana preta investida. Esta é a intenção real? Então, tudo bem, mas não se deve vender ao público a inverdade de um suposto encontro lusófono internacional. O EELP nem de longe lembra a qualidade (e a organização) do Encontro Natalense de Escritores (ENE), promovido pela gestão municipal anterior.

Sei que a “idéia” não é dar continuidade ao ENE, mas onde está a sabedoria em deixar de lado o que funciona com relevância para investir no superficial, na mesmice? Isso é o que chamam de “renovação”? Dizem que a coordenação está nas mãos do padrasto da prefeita Micarla de Souza e a Funcarte nada apita. Sendo assim, pergunto: é oferta familiar de mão beijada, sem consultoria especializada, sem nenhuma preocupação com o público ou com os escritores interessados no fazer literário ou na discussão da língua portuguesa? Mas dá no mesmo. Se a Funcarte apitasse sua equipe saberia a diferença entre um Luandino Vieira e um Antônio Lobo Antunes? Duvido.

(*) Escritor e jornalista. Autor de nove livros. Três deles publicados em Portugal. Participou como escritor-convidado do ENE, da Bienal do Livro da Bahia, da FLIP, da Bienal Internacional do Livro de São Paulo e da Feira do Livro de Porto Alegre.

www.cinzasdiamantes.blogspot.com
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