4 de abril de 2010

Notícias de chuvas no sertão do Seridó

AG Sued
O funcionário do Grande Ponto recebeu uma carta de Marcus Nepomuceno dando notícias sobre chuva nas cabeceiras das serras do sertão de Acari, na região do Seridó norte-riogradense. Das varandas arejadas da Fazenda Pitombeira, Marcus escreve:

Pitombeira, dia desse chuvoso no seridó do ano da copa de 2010.

Amigos,

Após muita reza e muita negociação com São José, São João e São Pedro... o céu cedeu e a chuva tá caindo.

Coisa bonita de se ver é inverno chegando no sertão. O clarão do relâmpago a rasgar a noite, vem escorado no tiro seco e forte do trovão, que ecoa na serra e se tranforma em musica no ouvido do sertanejo.

Primeiro, é um chuviscado que vem lavando a poeira das telhas, sente-se o cheiro da chuva a empregnar a casa e, ao engrossar dos pingos,... vai se preparando as bacias, redescobrindo as goteiras, e se escuta a sinfonia das aguas... no correr da bica, na descida do lajedo, no corrego que corre em direção do rio... que, corre em direção do mar.

As chuvas estão chegando no sertão e, ao primeiro sinal, o "burburim" se espalha ligeiro. Pois, essa sim, é noticia de primeira linha. A terra abrejada, exala um odor próprio, que, se funde com o aroma do mato verde, numa fusão de cheiros fortes e variados. A natureza se renova. A vida brota de todo lado, em todos os cantos e de todas as formas.

No conhecimento adquerido pela hereditáriedade de uma raça secular, o sertanejo puro, calejado pela enxada do tempo, escavaca a dureza da vida, pra semear a fé num futuro que a Deus pertence. O matuto levanta as mãos pro ceu e agradece ao santo de devoção pela benção do inverno. Vive um período de sonho.

A empolgação é contagiante, o povo se esqueçe das agruras do dia a dia, das dificuldades, das mazelas... e como que por encanto, tudo é guardado no baú do tempo, pra so voltar quando o inverno acaba.

Cheguei em Acari na tarde desse Domingo, a tempo de pegar a invernada. Tava uma belezura. A Pitombeira em baixo do maior aguaceiro ( 50mm), o ribombar do trovão no ôco da serra... e o convite pra um banho de chuva foi irrecusável, os beiços ficaram roxo e as pontas dos dedos encriquilhados (essa palavra existe???) de tanto frio... e pra rebater, só mesmo uma(s) lapada(s) de cana com imbu inchado. Foi um final de tarde de fazer inveja a muito cristão... que, eu fiz questão de registrar.

E a noite, com um sorriso besta de quem esta feliz com a vida e em paz com Deus, peguei no sono, embalado pela cantoria da saparia e o chiado da chuva no telhado da casa centenária. A felicidade, mostra sua cara estampada no sorriso franco do matuto, que, até o olho fica rindo.
Vc ja reparou no riso do olho?? Não?? Pois repare. É o que há de mais puro e franco.

No mais, é acreditar nas nossas amizades e preservar sempre as raízes da nossa cultura.

Um abraço

Marco da Pitombeira

Um comentário:

Jarbas Martins disse...

INVERNO

r e v e r d e c e

antes que um rasgo de sanfona c-

esse

Jarbas Martins