6 de agosto de 2006

Antoniel o brincante das palavras

Foto: Alexandro Gurgel
Poeta Antoniel Campos

Por Leonardo Sodré

O escritor e poeta Eduardo Alexandre de Amorim Garcia, o Dunga, costuma dizer que o poeta Antoniel Campos “brinca com as palavras”. E, ele brinca mesmo por meio de uma poesia lírica, romântica, que muitas vezes, como ele próprio afirma “explora, de leve, quase erótico, o sensual”.

O poeta Antoniel Campos é engenheiro civil, tem 39 anos, duas filhas e é funcionário do Ministério da Educação. Trabalho como engenheiro para sobreviver e faço poesia para viver.
Para ele, “poesia é você dizer com palavras o que as palavras não dizem”.

Acosta-se, embora intempestivo,pedido de sustar-se esse processoem que deliberei-me réu confessono Campo absoluto e relativo.

É pedra cada instante que atravesso, e inútil perquirir por qual motivo quis pedra fosse o instante onde me vivo e por que não me paro e recomeço.

Mercê da própria vaga em que derivo, um quê me diz de pleito impeditivo e raras as nuances de sucesso...

Mas sendo o que me resta e ora peço, o embargo dessa lide faço expresso: acosta-se, embora intempestivo.

Boêmio, freqüentador do reduto mais tradicional da cultura natalense, o Beco da Lama, ele é, sobretudo, discreto, às vezes quase invisível. Mas, quem o conhece sabe da sua capacidade de conciliar, de fazer amigos e não é raro vê-lo compenetrado escrevendo poesia, em guardanapo, numa mesa de bar. E, diferentemente de outros poetas, que fazem do sofrimento um motivo de inspiração, ele acha que o poeta é alegre, que sente prazer na alegria, no viver e isso “é o norte da escrita poética”..

Escreveu três livros: “Crepes & Cendais”, de 1998; “De Cada Poro um Poema”, de 2002; e “A Esfera”, de 2005.

Recebeu vários prêmios literários: Menções honrosas nos concursos de poesias Othoniel Menezes e Luis Carlos Guimarães, primeiro lugar no 1° Concurso de Poesia Erótica Brasil/Portugal e primeiro lugar no Concurso de Poesia Falada.

O poeta não é ligado em política, mas como sua mente é voltada para o belo e o sensual, ele aproveitou umtempo de muitas CPIs para fazer poesia:
Eu vou colher o teu depoimento,/traçar o rumo da investigação./À tua fala ficarei atento/a ver se apanho-te em contradição./Se não convences, por requerimento,/te chamarei para acareação./E com ou sem o teu consentimento/quebro o sigilo do teu coração./Eu titular e nunca o teu suplente,/teu relator e o teu presidente,/bato o martelo nessa comissão./Eu tranco a pauta, fecho o expediente/e dispensando cada depoente,/beijo tua boca em absolvição.

Prosista, caminha no rumo da sensualidade com a leveza a que se propõe, quando escreve:
Ela ousa declinar a mão esquerda em suposto tanto faz, como se o ângulo de repouso pensado não o fosse. Quer deixar os cabelos — loiros — parecerem assim como num lance fortuito do acaso. E olha assim para um nada, como se para mim não fosse esse olhar. E ela quer deixar transparecer um sorriso assim meio podia ou não podia ser, entende? E ela se senta assim meio largadona. E eu volto às suas mãos e digo: juro que posso lhe sentir o cheiro e dizer qual perfume. E esse “U” que vai de ombro a ombro num deixar só na medida nem um mais nem um menos: só o que deve. Falo dos peitos dessa mulher. Dos peitos de sharon. Eu que tantas vezes os tive rentes à barba de dois dias e agora nessa de três só minhas mãos a alisá-la... Como quem diz: nossa, como você mudou. Mas ela olha de lado como se aqui eu não estivesse. Mas eu estou e digo a ela, a você: são inesquecíveis.

PRODUÇÃOLITERÁRIA NO RN
“Gosto do que vem sendo escrito pela nova safra de poetas do RN. Destacaria, e aí cometendo o pecado de certamente esquecer nomes, a poesia de Alexandre Abrantes, Xavier del Neto, Lívio Oliveira, Daniel Minchoni e Cefas Carvalho, em Natal; Théo Alves, Iara Maria e Wescley da Gama, em Currais Novos; Marcos Ferreira, Cid Augusto, Caio César Muniz, o mestre Antônio Francisco e Kalliane Sibelli, no país de Mossoró. É o sangue jorrando novo e quente no cenário poético potiguar”.

MOVIMENTO LITERÁRIO NO RN
“Vejo todas as tribos, cada uma com sua linguagem, seu grito — aí incluindo, igualmente, suas idiossincrasias —, dizendo para o mundo as suas propostas no contexto da poesia. E aqui eu gostaria de citar a recente entrevista do poeta Marcos Ferreira à revista Papangu. Engana-se quem pensa que o desabafo do bardo mossoroense é coisa localizada, daqui do RN, da província. Não! Embora os citados sejam os “de casa”, vejo nas palavras do Marcos Ferreira, no que tange à poesia, o grande debate, muito embora às vezes sub-reptício, que vem sendo travado a nível nacional, onde uma parcela significativa de poetas tenta impor, ainda que de forma velada, a sua proposta poética, como se apenas uma única via fosse possível. Rotulam-se mutuamente de poetas inventivos e o resto dos mortais, que eles chamam de neoparnasianos, que se lixe. Essa outra parte, atacada, revide de forma às vezes irresponsável, destilando seus rancores em forma de suposta crítica literária, como foi o caso de um artigo do poeta paraibano Hildeberto Barbosa que, sem conhecer a poesia dos autores que ele ataca, coloca todo mundo no caldeirão do inferno. São esses extremos que depõem, atualmente, contra o cenário poético nacional que, de resto, vive exatamente esse momento, que é a busca do caminho a seguir. Ora, cada poeta que faça o seu! Nada de imposições e cerramento de fileiras”.
Publicado n'O Mossoroense, em 06 de agosto de 2006.

Um comentário:

Anônimo disse...

estou longe o bastante deste grande poeta que já tive em meus braços