6 de outubro de 2006

Fotografias, letras e Seridó: A arte criptográfica de Hugo Macedo

Foto: Ana Lia
Hugo Macedo fotografando a torre da igreja submersa de São Rafael, barragem Armando Ribeiro Gonçalves.

Por Alexandro Gurgel

Captar o sentimento é o primeiro refinamento autêntico da imagem; por isso, quando o fotógrafo conseguir fazer uma boa foto usando corretamente sua sensibilidade, buscando emocionar o leitor/observador, terá alcançado um ponto importante na sua formação. Não basta captar uma boa imagem. É preciso que a fotografia tenha vida, conte uma história e seja capaz de emocionar.

O atual momento do trabalho de Hugo Macedo é repleto de composições inusitadas, onde a busca pela melhor imagem pode ser captada nas paisagens sertanejas, nos retratos de anônimos ou no detalhe de uma flor brejeira. Algumas de suas imagens parecem ter saído de poemas do bardo Antoniel Campos, como se a composição dos elementos cênicos formassem versos panorâmicos, sonetos com rimas ricas.

Há dez anos, quando trabalhava na Secretária de Recursos Hídricos, Hugo percorrendo os mais distantes vilarejos do Rio Grande do Norte para montar dessalinizadores. Provendo água boa de beber para um povo esquecido, Hugo Macedo descobriu o encanto da fotografia. A princípio, fazendo registros despretensiosos do cotidiano sertanejo. Mais tarde, com o olhar apurado, suas fotos resgatavam as belezas do interior e do litoral norte-riograndense.

Participou de várias exposições coletivas – inclusive, com suas fotos sendo destaque numa mostra fotográfica em Barcelona, na Espanha. Realizou algumas exposições individuais em Natal, Parelhas, Caicó e Acari. Recentemente, as fotos de Hugo Macedo foram publicadas na revista “Água de Beber – o novo curso das Águas”, editada através de parceria entre o Governo do Estado e o Proágua-Semi-Árido, com publicação nacional.

A revista ainda faz uma apologia à água pelas mãos do escritor e poeta Oswaldo Lamartine, com trecho do livro “Os Açudes dos Sertões do Seridó.” Ilustrando o texto está uma expressiva foto de Hugo, retratando o açude Boqueirão, em Parelhas. A publicação também faz um passeio pelas águas e serras do Seridó no Rio Grande do Norte, mostrando através das imagens do fotógrafo, seu povo, seu lugar e suas crenças.

Conforme o presidente da Apofoto (Associação Potiguar de Fotografia), Adrovando Claro, as fotos de Hugo são resultados de uma maturidade profissional, conhecimento técnico e um talento nato. “Hugo desenvolveu uma maneira própria de fotografar as cenas do litoral e do sertão. Atualmente, ele é um dos melhores fotógrafos atuando em solo potiguar que conheço”.

Apaixonado pelo chão do Seridó, Hugo tem fotografado sua terra em todos os ângulos, revelando nuanças e cores de um sertão deslumbrante, onde a explosão das paisagens sertanejas enche os olhos desatentos de quem habita nas grandes cidades. O fotógrafo tem capturado os traços nos rostos do homem interiorano, com seu cotidiano mostrado de forma simples, como se cada retrato formasse a identidade do povo potiguar.

Atualmente, Hugo Macedo tem uma casa às margens do açude Gargalheiras, podendo contemplar uma natureza deslumbrante, rodeada por lajedos de granito, onde a forma de uma garganta apertada lembra o nome do lugar. “O contato direto com o sertão me inspira a fotografar, registrando a mudança de estação e os aspectos de uma região pouco conhecida pelos nossos conterrâneos”, ressaltou.

Com a verve de escritor apurada, acalentando planos para fazer uma homenagem à sua terra natal, Hugo Macedo reuniu depoimentos das histórias que circulavam pela cidade e resolveu escrever um livro, contado os causos e contos dos seus conterrâneos parelhenses, personagens reais do “Beco Estreito”, lançado recentemente com edição do autor. O livro está esgotado, mas o escritor/fotógrafo pretende fazer uma segunda edição para ser lançada em Natal, na Livraria Sicilliano, quando setembro chegar.

O livro reúne causos contados em ruas, mesa de bares e esquinas de Parelhas. O autor pretende resgatar as histórias cômicas do folclorista Mané Bonitim, do poeta Baé, do matuto Boró, do esperto e manhoso Galego de Emídio, do presepeiro Lôra de Maurício e tantos outros parelhenses que circulam na cidade insultando, instigando, brincando, galhofando. Hugo resgata a vida do seu povo, contado o dia a dia do município, de maneira alegre e divertida.

De acordo com o jornalista Leonardo Sodré, caricaturista de todas as ilustrações do livro, o “Beco Estreito” é o fiel retrato do folclore parelhense, onde a ficção e a realidade se harmonizam em fatos encadeados com personagens nascidos nas Terras do Major Antão. “Fiquei honrado em participar do livro. Conheci pessoalmente a maioria dos personagens citados por Hugo no seu ‘Beco Estreito’. Acredito que o sucesso do livro é a verossimilhança contida nas suas estórias”, disse o intrépido jornalista.

Das arejadas varandas da praia de Tibau, o jornalista e poeta Cid Augusto, colaborando com a orelha do livro, escreveu: “Ao mesmo tempo em que diverte o leitor com a filosofia despretensiosa do sertanejo, Hugo traça a alma, o pensamento, a linguagem, o cheiro, as ruas e as cores de sua gente”.

Segundo o poeta Chagas Lourenço, Hugo Macedo cumpriu seu papel de colocar no livro um pedaço da vida da sua terra e da sua gente. “No futuro, poderá folhear seu livro, dar boas gargalhadas e recordar seu povo, vislumbrando de um lado a cidade do Acari, no horizonte as serras da Paraíba e aos seus pés o sibilar dos ventos seridoenses, fazendo ondas na águas do Boqueirão”, escreveu Chagas na contracapa do livro.

Hugo Macedo usa os códigos pictóricos para emocionar o ato de olhar, estampados no motivo principal do fotograma, anunciado que atingiu a maioridade como retratista. E como escritor, começa a se consagrar com o lançamento do seu primeiro livro, estabelecendo uma fronteira na literatura parelhense, onde todos os personagens do “Beco Estreito” fazem parte da geografia seridoense.

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