28 de novembro de 2006

Gastronomia entre uma farra e outra no Beco da Lama

Norman Goldie, primo do ator Sean Connery, tio da atriz Goldie Hawn, um chef especialista em várias cozinhas do mundo, experimentando a "Galinha com feijão troupeiro", do Bar da Amizade.

Por Rafael Duarte

O futebol, antigamente, era alvo certo dos frasistas da hora. “Tem coisas que só acontecem ao Botafogo”, por exemplo, foi um dos grandes achados do general Severiano, torcedor do time que mais tarde daria nome à sede do clube, no Rio de Janeiro.
Trazendo para a praia potiguar, Luís da Câmara Cascudo também entrou para o time quando afirmou que o Rio Grande do Norte tinha um povo chamado ABC. Mas que diabos tem a ver o futebol com uma reportagem que fala sobre o beco mais popular de Natal? Bom, sábado passado, na final do terceiro festival gastronômico Pratodomundo, organizado pela Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências (SAMBA) e agência cultural Sesi/Sebrae, o Beco da Lama que premiou a tradicionalíssima “Carne de sol na brasa” do bar e restaurante Caicó na Brasa com um troféu em forma de prato criado pelo artista plástico Flávio Freitas e R$ 600 foi, digamos, um prato cheio para a turma da frase pronta.
A começar pela tensão dos freqüentadores do local frente à batalha do América contra o Atlético Mineiro, em Belo Horizonte, que levou o clube potiguar de volta à elite do futebol nacional. Em todos os bares, uma TV ligada acompanhada de torcedores e secadores do time vermelho.
Passada a embriaguez inicial pela alegria que tomou conta do local após o final da partida, um outro fato provou porque o Beco da Lama é um celeiro de causos pitorescos. Sorteado num critério de desempate pela coordenação do evento, o quinto prato classificado para a final do Pratodomundo seria a “Língua ao molho beco”, do bar do Aluízio. Seria porque, assim como lá, por aqui também existem coisas que só acontece no Beco da Lama. O proprietário do estabelecimento tomou um porre, fechou a casa e deixou os jurados com a “língua presa”.
Sorte do bar da Amizade, que concorreu com a “Galinha com feijão tropeiro”. Mas aquela tarde de sábado ainda reservava munição aos mais atenciosos. Quem percebeu aquela figura alta, de cabelos e barba brancos com jeitão de gringo andando atrás de provar os pratos do festival, deve ter ficado com a sensação de que já o tinha visto em algum filme americano. Pois quase acertou.
Convidado pela produção do Pratodomundo para compor o júri, o chef de cozinha canadense, Norman Goldie, roubou a cena. Primo do ator Sean Connery, tio da atriz Goldie Hawn, ex-pantera e um chef especialista em várias cozinhas do mundo, ele emocionou as cozinheiras dos bares que participaram do festival. Uma delas, Magda Paula de Lima, do bar da Amizade, confessou que se arrepiou toda quando o “home” entrou na casa. “Ave maria, é muita responsabilidade! E pensar que tirei uma foto abraçado com ele. Fico até sem jeito de cozinhar para um homem desse. Mas vai dar tudo certo, vamos ganhar esse concurso. Ai que estou arrepiada”, disse emocionada.
Goldie falou da alegria de participar do evento. Ele conta que o fato de ter passado mais de 15 anos como chef da Rainha Elizabet, na Inglaterra, não diminui em nada a experiência que teve no Pratodomundo. “A descoberta dos melhores cheiros não está nos grandes hotéis do mundo, mas no meio da rua, junto ao povo. Encontrei no Beco um estilo de beco. A rainha Elizabeth é uma graça, uma mulher de hábitos simples, não é uma prima-dona. É um prazer imenso estar participando dessa festa no Beco”, disse.
A vencedora e proprietária do bar e restaurante Caicó na Brasa, se disse emocionada ao lembrar que mesmo estando há pouco tempo no Beco já ganhou o prêmio. “Faz só um ano que mudei para o Beco, estou muito feliz em participar do festival e vou participar também no próximo ano. Queria só dizer que meu bar fica na rua Vigário Bartolomeu, por trás do camelódromo”, mandou o recado.
Para os próximos anos, no entanto, a organização deveria repensar questões como a sinalização do evento, através de placas e distribuição de panfletos. Quem foi ao Beco pela primeira vez durante o festival, certamente ficou perdido. Não havia placas indicando os bares participantes e seus respectivos pratos concorrentes. Como alguns estabelecimentos ficam nas adjacências do local, faltou esta conexão.
Para o atual presidente da SAMBA, Bira Lemos, o objetivo do Pratodomundo foi conquistado: chamar a atenção da comunidade do Beco da Lama para o Centro Histórico. Segundo ele, se as pessoas vão ao shopping mesmo que não tenham dinheiro para comprar algum produto, poderiam fazer o mesmo no Centro. “O Centro tem tudo o que um shopping tem com preços mais baixos. Tivemos um público médio nos três dias entre 1500 e 2 mil pessoas no horário dos shows. O beco hoje é uma vitrine. O Pratodomundo foi um sucesso”, disse.
Classificação
1º Carne de sol na brasa (bar e restaurante Caicó na Brasa) - R$ 600
2º Galinha Caipira com feijão tropeiro (bar da Amizade) - R$ 400
3º Cupim ao molho beco (bar de Nazaré) - R$ 300
4º Costelinha de porco ao molho samba (bar do Pedrinho)
5º Peixe ao molho beco (bar Bardallos)

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