9 de novembro de 2006

A lenda das Lajes Pintadas e do riacho dos desenhos rupestres

Texto e fotos: Alexandro Gurgel
Vista panorâmica da cidade de Lajes Pintadas.

Localizado na Região do Traíri, o município de Lajes Pintadas está a 135 quilômetros de distância de Natal, onde uma população urbana e rural abriga, aproximadamente, 5.300 pessoas habitando numa área serrana de clima agradável. Desmembrada do município de Santa Cruz, a cidade de Lajes Pintadas foi criada em 31 de dezembro de 1958.
De acordo com Câmara Cascudo, no livro “Nomes da Terra”, 2ª edição, Sebo Vermelho Editora, o riacho das Lajes Pintadas, afluente dos Rios Inharé e Traíri, tem esse nome por suas águas banharem algumas pedras com escrituras rupestres na localidade, desenhos deixados por antigos moradores daquelas serras. Mas, conforme a historiografia local, as lajes foram explodidas pelos proprietários da terra para abrir estradas. Os pedaços de rocha foram usados como paralelepípedos. Uma perda cultural e histórica imensurável, sentida por todos os moradores e estudiosos.
No seu livro, o Mestre Cascudo diz que o antigo proprietário das Lajes Pintadas, João Francisco Borges, reunia os moradores rurais para promover cultos religiosos a São Francisco de Assis, em torno do quadro do santo que trouxera do sertão do Canindé, no Ceará. A Capela de São Francisco foi construída em 1935, pelos irmãos Eduardo e Elias Borges. “O quadrinho com o primitivo São Francisco, trazido do Canindé, ainda existe na Igreja São Francisco”, revela Cascudo.
A religiosidade sempre foi uma constante em Lajes Pintadas, fazendo com que o Padre Benjamim Sampaio, na época vigário de Santa Cruz, agraciasse a comunidade com uma imagem de São Francisco vinda do Orago, no Rio de Janeiro. Durante a procissão de São Francisco, sempre realizada no dia 4 de outubro, é comum ver adultos, jovens e crianças vestidas de marrom, com os pés descalços como franciscanos, pagando promessas por graças alcançadas. Casamentos, batizados e crismas também são realizados durante as festividades em homenagem ao Santo.
Rio das Lajes Pintadas, local onde havia as pedras com desenhos rupestres.

Lajes Pintadas tem sua atividade econômica voltada para a agricultura familiar, a pecuária e o serviço público. O artesanato lasjespintadense tem como base o sisal para confecção de tapetes e ornamentos domésticos e a pedra sabão, usada para esculturas e peças de acabamento na construção civil. Os artesões locais, através da Associação dos Artesões de Lajes Pintadas, têm suas obras vendidas para a capital do Estado e alguns países da Europa, como Itália, Espanha e Portugal.
A cidade ainda possui um grande potencial em mineração, uma reserva econômica que já está sendo explorada. A região de serras é rica em minérios como água marinha, feldspato, quartzo rosa, berilo, tantalita, mica, entre outras pedras. “Hoje, com o incentivo da prefeitura municipal na mineração, empregamos mais de 60 pais de família”, frisou o prefeito Fábio Henrique.
Resgatando a cultura popular e mantendo a tradição religiosa, a atual administração municipal incentivou a criação do “Auto de São Francisco”, um espetáculo teatral ao ar livre, envolvendo somente moradores do município na produção e na dramaturgia. Na sua 2ª versão, o Auto de São Francisco foi apresentado nos dias 4 e 5 de outubro, durante as comemorações da festa do padroeiro, atraindo um grande público.
De acordo com o prefeito Fábio Henrique, a sua administração conseguiu viabilizar a reforma de todas as escolas municipais, mantendo os alunos com fardamento e material escolar completo, além da merenda diária. O prefeito fala com orgulho sobre a implantação do projeto de Inclusão Digital para os jovens, criando novas perspectivas de trabalho na cidade.
Aliando as tradições religiosas, um povo acolhedor e a boa vontade do executivo municipal, Lajes Pintadas vem se despontando como uma cidade que se desenvolve rápido, criando melhores oportunidades de vida para esse povo sertanejo. O espetáculo teatral Auto de São Francisco é um exemplo vivo, uma das formas que os lajespintadenses têm para conquistar sua própria identidade cultural, contando a história do Santo e dos desenhos rupestres que viraram lenda.

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