4 de fevereiro de 2007

Controvérsia intelectual

Foto: Alexandro Gurgel
Uma polêmica cultura tende a ser instalada na província cascudiana, cidade das grandes vaidades literárias. De um lado, a Fundação José Augusto com seu inédito “Catálogo do Acervo de Artes Visuais do Governo do RN”, lançado recentemente, onde reúne todas as obras adquiridas pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte, de grandes artistas plásticos potiguares. No outro córner, o editor e sebista Abimael Silva (foto), um dos maiores crítico da publicação.

Veja o artigo escrito pelo editor do Sebo Vermelho e, logo abaixo, matéria sobre o “Catálogo do Acervo de Artes Visuais do Governo do RN”. Os dois textos foram publicados no jornal O Poti, deste domingo.


O inventário da inutilidade

Por Abimael Silva
Sebista e Editor

Nenhum potiguar do ramo pode negar a competência cultural da professora Isaura Rosado, mas a publicação Inventário - Catálogo do Acervo de Artes Visuais do Governo do Rio Grande do Norte foi o maior gol contra da Fundação José Augusto em 44 anos de história. É uma colcha gigante de falhas e erros absurdos. Uma publicação vergonhosa, que não passa das fronteiras da cidade.

O ‘‘catálogo’’ foi inventado em formato de livro comum, impresso em preto e branco com o gravíssimo erro de priorizar informações bobas e reproduzir os trabalhos inlegíveis, no ridículo formato de até três milímetros, um trabalho que tem o tamanho original de um metro e setenta centímetros.

Dos 345 selecionados, tem excesso de anônimos, 77 sem dados biográficos e 102 participantes que não são potiguares. A grande maioria com qualidade extremamente duvidosa. O que tem mais é informação incompleta. Por exemplo, o médico escritor e artista plástico Getúlio Araújo, que morreu no começo do século, continua vivo no catálogo. O desenhista Emanoel Amaral fez um belíssimo e famoso retrato da poeta e jornalista Myrian Coeli em 1989, em tamanho 93x63 cm foi reproduzido como ‘‘sem título’’ no tamanho 2 x 1 cm. Também é bom não esquecer que essa ‘‘obra’’ foi realizada pelo quarteto Isaura Amélia de Sousa Rosado Maia, Ana Neuma Teixeira de Lima, Eduardo Alexandre de Amorim Garcia e Vatenor de Oliveira.

Além da feiúra de preto e branco, o papel pólen bold 30g só fez complicar o resultado final. Se o caso era usar Pólen, que fosse um mais decente e apropriado para um livro de arte. A ausência de um índice onomástico é visível a olho nu. Como também um sumário.A capa do ‘‘catálogo’’ é coisa de papangu de quarta categoria! Cinza, amarelo jerimum com fundo vermelho, isso é capa de livro de arte? Livro de arte tem um formato de livro de arte, impressão colorida, papel couchê fosco ou outro que não complique a reprodução e uma capa mais alinhada, compatível com a temática do produto.

Mas existe um pioneirismo: é o primeiro catálogo de obras desaparecidas. A Fundação José Augusto inventariou bens inexistentes (quadros fantasmas). Dos 50 que sumiram, constam os artistas plásticos Dorian Gray Caldas, Erasmo Andrade, Arruda Sales, Regina Guedes, Irmã Myriam, Cristina Jácome, Laércio Eugênio, Getúlio Araújo, Levi Bulhões, Mano, Manxa, Vatenor, José Estelo, Ojuara, Newton Navarro, Leopoldo Nelson e muitos outros.

Manxa, artista potiguar consagrado além do RN, tem um trabalho original de um metro e setenta centímetros, reproduzido com três milímitros de largura é uma vergonha para todo norte-rio-grandense.Sem considerar as injustiças. Enquanto eles ficam pedindo doações aos verdadeiros operários das artes, para enriquecer o fraco acervo, o ilustre desconhecido Florêncio Costa de Medeiros, de Pedro velho, teve dois abstratos adquiridos.

Assim, não tem jeito que dê jeito!

Um comentário:

Moacy Cirne disse...

Parabéns pelo artigo do Abimael. Ainda não vi o catálogo (espero vê-lo em breve, quando terei uma opinião mais consistente a respeito), mas, em princípio, confio no olho clínico do editor do Sebo Vermelho. Um abraço.