22 de fevereiro de 2007

Irreverência, frevo e violência marcam o carnaval da capital

Foto: AG Sued
A orquestra do maestro Gilberto animou o sábado de carnaval, no Centro Histórico de Natal.

Por Alexandro Gurgel

Desde que aconteceu o trágico acidente com a Bandagália, no início dos anos 90, o carnaval em Natal perdeu a magia com a debandada dos natalenses para centros de folia. O carnaval 2007 em Natal foi bem diferente de anos anteriores. A prefeitura da capital promoveu o "Carnaval Multicultural", criando seis pólos de animação na cidade (Ponta Negra, Centro Histórico, Rocas, Ribeira, Alecrim e Redinha) para não deixar o folião parado.

Homenageando o compositor potiguar Dosinho, ressaltando os 100 anos de frevo, a Prefeitura do Natal, através da Fundação Cultural Capitania das Artes, tentou resgatar a atmosfera dos carnavais do passado, valorizando os blocos, bailes carnavalescos tradicionais e bandas de frevo.

O carnaval de Natal começou uma semana antes da data momesca oficial, com a realização de prévias carnavalescas. No Centro Histórico, a troça "Antigos Carnavais" animou os foliões; no largo do Atheneu, foi a vez do bloco "Ascugal" (Assopradores de Cú de Galos); e na Ribeira, a "Banda Independente da Ribeira" fez a festa até de manhã".

De acordo com o presidente da Capitania das Artes, Dácio Galvão, a iniciativa tem o objetivo de transformar, cada vez mais, o carnaval em Natal numa festa participativa, fortalecendo um tipo de comemoração que já existe na cidade. "Estamos valorizamos também todos os artistas de Natal que vão trabalhar em algum ponto da cidade", disse o presidente.

A irreverência e a alegria deram os primeiros acordes na folia do pólo Centro Histórico. No sábado de carnaval, a troça "Manicacas no Frevo" arrastou centenas de pessoas pelas ruas da Cidade Alta ao som da orquestra do maestro Gilberto.

No domingo, a descontração das Kengas, comemorando seu 24º aniversário, encheu as ruas do centro natalense de confetes e serpentinas. O ponto alto do bloco das Kengas foi o show de Martinho da Vila, com a presença do prefeito de Natal, Carlos Eduardo e da governadora Wilma de Faria.

Folia em Ponta Negra, Redinha e Pirangi

A reportagem d'O Mossoroense registrou um grande número de foliões prestigiando o bloco "Poetas, Carecas, Bruxas e Lobisomens", durante o sábado de carnaval em Ponta Negra, ao som da orquestra de frevo do maestro Neemias. No palco principal, Isaque Galvão animou a galera e convidou o compositor Dosinho para cantar frevos antigos como "Eu não vou, vão me levando" e "Doido também apanha".

Na segunda-feira de carnaval, o grupo "Ribeira de Pau e Corda" atraiu natalenses e turistas para o frevo, fazendo a alegria das pessoas. Crianças fantasiadas, incentivadas pelos pais a gostar da folia e idosos que lembravam saudosos carnavais davam um colorido especial às ruas de Ponta Negra.

Marcando os festejos da segunda-feira carnavalesca, o tradicional bloco das "Virgens" lotou a principal avenida de Pirangi, celebrando a festa momesca no litoral sul do Estado como um dos mais procurados pelos potiguares e turistas. Odaliscas, passista de frevo, enfermeiras, patricinhas, entre outras fantasias irreverentes eram usadas por rapazes para sair na troça carnavalesca das "Virgens", animando veranistas e turistas que visitavam a praia do Maior Cajueiro do Mundo.

Nas primeiras horas da manhã da terça-feira gorda, cerca de 1500 pessoas se melaram de lama no mangue do Rio Potengi para sair no tradicional bloco "Os cão", animado pelo grupo de percussão Pau e Lata e uma bandinha de frevo. O Rei Momo, Francisco das Chagas e a Rainha do Carnaval, Edla Dias, se renderam à brincadeira. Esse ano, foi a quarta vez que o rei saiu nos "Cão".

Na Redinha, a manhã de ontem nem parecia quarta-feira de cinzas. A praça do cruzeiro estava lotada de foliões, aguardando a saída do tradicional bloco "Baiacu na Vara", comemorando seu 17º ano. Caldo de baiacu com camarão foi a receita do bloco para alegrar os foliões que trabalharam os quatro dias de carnaval e caíram na farra na quarta-feira de cinzas, ao som de marchinhas de frevo pelas vielas e becos da Redinha.

Carnaval 2007 é um dos mais violentos dos últimos anos

De sexta-feira, até a manhã da quarta-feira de cinzas, o Instituto Técnico-científico de Polícia (Itep) registrou 41 mortes violenta em Natal. Catorze pessoas foram vítimas de assassinatos. As demais morreram em acidentes de carro, afogamentos, suicídios e um desabamento de uma casa de praia.

No total, 44 cadáveres passaram pelo necrotório da Polícia Civil entre a sexta-feira e a manhã de ontem. Dois corpos não foram computados como mortes violentas porque ainda estão em análise para que os peritos descubram as causas das mortes. O terceiro caso refere-se ao corpo de um estudante que estava internado desde o dia 19 de janeiro no hospital Walfredo Gurgel.

Ano passado, o Itep registrou 18 mortes violentas. A precariedade no policiamento, ocasionada devido à greve dos PMs, deflagrada na quinta-feira, pode ter contribuído para o alto índice de homicídios, tentativas de homicídios e assaltos que ocorreram no carnaval 2007.

O domingo de Carnaval foi o dia mais violento em Natal, com nove entradas de cadáveres por morte brutal no necrotério do Itep. Embora o número de homicídio seja elevado, apenas no crime do comerciante José Adriano, morto na Zona Norte de Natal, os autores foram presos.

A reportagem d'O Mossoroense entrou em contato com alguns hospitais e constatou que, apesar das mortes violentas, os hospitais da grande Natal prestaram auxílio a quatro casos de pessoas feridas a faca (três pessoas, num único dia, em São José de Mipibu) e outros cinco casos de pessoas baleadas.

Matéria publicada no jornal O Mossoroense, em 22 de fevereiro de 2007.

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