13 de março de 2007

Geléia da Becolândia

Maurício Grounge

* Essa coluna é atualizada toda segunda-feira.

Os “poetas malditos” não são uma criação de romantismo: são o fruto de uma sociedade que expulsa aquilo que não pode assimilar. A poesia nem ilumina nem diverte ao burguês. Por isso desterra o poeta e transforma-o em um parasita ou um vagabundo. Daí também que os poetas não vivam, pela primeira vez na história, de seu trabalho. Seu labor não vale nada e este não vale nada traduz-se precisamente em um não ganhar nada. O poeta deve buscar outra ocupação - desde a diplomacia até o roubo - ou padecer de fome. Esta situação confunde-se com o nascimento da sociedade moderna: o primeiro poeta “louco” foi Tasso; o primeiro criminoso foi Villon. Os “Siglos de Oro” espanhóis estão povoados de poetas - mendigos e a época elizabetana de líricos rufiões. Gângora mendigou toda sua vida, fez trapaças no jogo e acabou cercado pelos credores; Lope recorreu à terçaria; na velhice de Cevantes há um penoso incidente com luz equivoca mulheres de sua família; Mira de Mescua, cônego em Granada e dramaturgo em Madri, recebia por uma função que não desempenhava; Quevedo, com fortuna diversa entregou-se a política, Alarcón, refugiou-se na alta burocracia... Marlowe foi assassinado em obscura entriga, depois de ter sido acusado de ateísmo e libertinagem; Jonson foi poeta laureado e recebia, além de uma soma em dinheiro, uma barrica anual de vinho: ambas insuficientes; Donne mudou de casaca e assim logrou ascender a Deão de São Paulo... No século XIX a situação social dos poetas piora. Desaparece os mecenas e suas receitas diminuem, com exceções como a de Hugo. A poesia não tem conotações, não é um valor que pode transformar-se em dinheiro como a pintura. As “tiragens limitadas” não foram tanto uma manifestação de espírito de seita da nova poesia, mas um recurso para vender mais caro, em razão do pouco dinheiro de exemplares, livros que de qualquer modo o público não compraria. O manifesto comunista afirma que “a burguesia converteu o médico, o advogado, o sacerdote, o poeta e o homem de ciência em servidores pagos”. Isto é verdade, com uma exceção: a burguesia fechou os seus cofres aos poetas. Nem criado nem bufões: parias, fantasmas, vadios. (Octavio Paz)

Tempo
Malandro demais vira bicho doido.

Soberba
A intelligentsia sempre acredita em imbecis.

Manifesto III
Poetas da Becolândia, uni-vos.

Drummond Revisitado
No meio do caminho tinha uma Beatriz.

Torquato Neto
“Desafinar o couro dos contentes”.

Saudade
Os arautos do Beco da Lama esqueceram a contra-cultura.

Quasar Romântico
Faz muito tempo que Beatriz não aparece no Beco da Lama.

Antologia
Caetano Veloso interpretando algumas músicas dos Beatles. Perinho Albuquerque nos arranjos, interestelar.

Peça
Os atores são os mesmos, o palco também.

Andança
O Dom Juan Caipira saiu do BBB 7.

Pauta
Eles não sabem o que é movimento cultural.

Capricho do destino
A foto de um caderno de cultura na semana dos sebistas é uma obra prima.

14 de março
“A poesia, senhores, nem cheira nem fede”, Ferreira Gullar.

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