18 de março de 2007

Homens

Foto: AG Sued
Escritor Manoel Onofre Júnior
Por Lívio Oliveira*

Mais uma vez a expressão “simples” aparece no título de um dos livros que compõem a vasta obra do desembargador e escritor Manoel Onofre Jr. Foi assim no livro de contos “Chão dos Simples”, de 1983. É, agora, com o seu recente “Simplesmente Humanos”.
De fato, simplicidade e o mais absoluto sentimento de humanidade são marcas explícitas da literatura produzida por Manoel Onofre Jr. Isto porque se constituem em características que lhe são, de maneira inegável, imanentes. O autor, assim como em sua vida pessoal, não se perde em exibicionismos sem sentido, coisa que teima em minar as biografias de alguns escritores e literatos destas plagas.
O que o autor busca na sua nova obra gerada é registrar, com sensibilidade apaixonada e apaixonante, os momentos lúdicos, pitorescos, relativos a histórias de personalidades diversas e ricas de conteúdo humano – dentre estas, políticos, intelectuais, além de muitos dos seus diletos amigos e pessoas do seu círculo familiar.
Sempre num tom memorialístico ou histórico, que dá continuidade a momentos como os descritos na recente reedição de seu “O Caçador de Jandaíras”, o autor investiga os escaninhos de seus arquivos e de suas lembranças mais íntimas e cristalizadas, aqui, mais líricas, acolá, mais lúdicas; sempre históricas.
Manoel Onofre Júnior mantém seu compromisso infatigável de destinar aos seus conterrâneos e demais leitores as informações mais precisas e raras sobre os costumes de sua gente. E se trata de sua gente, mesmo. São as pessoas que cultua e cultiva, na inteligência e no coração.
No início de seu livro, faz-se notar – com destaque acentuado – personagens vivos, vivíssimos, compondo (alguns deles), o que o autor denomina de os “Cavaleiros da Távola Redonda”, um grupo de intelectuais que se reúne em torno de “...pequena mesa, nos fundos de uma livraria, no centro de Natal, onde, toda manhã, forma-se uma roda de conversa, da qual tenho o prazer de participar, vez ou outra.”. Desse grupo fazem parte personagens como Inácio Magalhães de Sena, o “Bispo de Taipu”, intelectual católico com aspectos de vida folclóricos, e que o autor descreve como um apaixonado por livros, quase beirando mesmo ao fanatismo. Compõe também o grupo o inteligente e talentoso Jarbas Martins, ex-promotor público, cronista, poeta, crítico literário e tradutor de poesia, atualmente lecionando na UFRN, que recebeu de Onofre o alcunha drummondiano de “fazendeiro do ar”, tratando-o Onofre como um ser sonhador puro e profundo – mas, com os pés nos chão – além de o considerar intelectualmente consistente, um “virtuose da palavra”. A esses membros da “Távola Redonda” se assoma Tarcísio Mota, um homem “...irrequieto, brincalhão, espirituoso, extremamente irônico.” Artista plástico, Tarcísio é descrito como um grande contador de causos, dotado de irreverência arrasadora. Pedro Vicente da Costa Sobrinho é outro intelectual do grupo. Escritor de diversas obras, sociólogo, professor da UFRN, Pedro é lembrado pelas virtudes da inteligência, versatilidade, integridade e modéstia, além de sua predileção pela gastronomia e seu amor pelos livros.
Outros importantes nome são lembrados e diversos episódios ilustrativos relatados na obra de Manoel Onofre Jr. Figuras do porte de João Wilson Mendes de Melo, Sanderson Negreiros, Dorian Gray Caldas, Celso da Silveira, Alvamar Furtado, Augusto Severo Neto, Carlos Lima, Veríssimo de Melo, Newton Navarro, Zila Mamede, Auta de Souza, Umberto Peregrino, Getúlio Araújo, Nilo Pereira, Edgar Barbosa, Antônio José de Melo e Souza (em capítulo já merecidamente destacado por Nei Leandro de Castro), Ferreira Itajubá, dentre mais e mais nomes, que trazem no topo dessa pirâmide de expoentes de humanidade, evidentemente, o nosso colosso Câmara Cascudo. Todos – eles e elas – são esquadrinhados em seus minuciosos aspectos psicológicos e peculiares personalidades. Suas características são sempre demonstradas como únicas, percebidos como seres invulgares e profundos por um escritor responsável e sincero, que nos faz rir e nos faz refletir. Desfilam, porém, tais personagens – com seus aspectos ampliados sob a lente transparente e a pena lúcida de Manoel Onofre Jr. – como entes simplesmente humanos.

*Lívio Oliveira é escritor e poeta, Presidente da UBE/RN.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Alex Gurgel, provavelmente vc não lenbra de mim. fui sua aluna na sua curta estadia como professor de inglês no colégio de Monalisa, em santa Cruz.
Hoje, ando no caminho das letras, admirando poesias. Encantei pelos versos de Ferreira Itajubá, e tenho conhecimento de um artigo seu "Fragmentos Itajubalinos". Gostei muito dele. Eu pensei se vc poderia contribuir na minha pesquisa sobre o poeta.
May Cosata. Este é meu email: maycosata@hotmail.com. Se puder responder agradeço muito.
Até logo.