13 de maio de 2007

Avental todo sujo de ovo

Foto: AG Sued
por Clotilde Tavares


Hoje é um dia em que as pessoas estão homenageando as suas mães. É almoço, é presente, é café da manhã com rosa vermelha na bandeja. Também é o dia daquelas ofertas surpreendentes do tipo: “Mãe, hoje você não pisa na cozinha. Eu mesmo vou fazer o almoço.” E a pobre mãe se resigna a entregar a cozinha ao filho ou à filha, mestre-cuca por um dia, mesmo sabendo que depois vai dar duro para limpar a bagunça que o cozinheiro improvisado certamente vai deixar atrás de si.

Aqui em casa a gente não liga muito para isso, principalmente depois que meus dois filhos casaram e vêm comemorando esse dia na casa das respectivas sogras, mais empenhadas do que eu no quesito “maternidade” e mais afeitas a esse tipo de comemoração.

Confesso que não me reconheço uma mãe exemplar. Sempre tive que trabalhar para criar meus dois rebentos, sem a ajuda de ninguém. Apaixonada pelo trabalho como sempre fui, muitas vezes me ausentei e não fui tão presente o quanto deveria. Também, com essa minha mania de ser artista, nunca assumi o modelo tradicional da santa que desdobra fibra por fibra o coração. Não sou rainha do lar, não sou nem nunca fui santa e jamais, jamais entrei na sala com o chinelo na mão e o avental todo sujo de ovo.

Meus dois filhos, Rômulo, 37, e Ana Morena, 26, são adultos perfeitamente ajustados, produtivos, independentes financeiramente e muito saudáveis. Não se drogam, nem nunca se drogaram, nunca precisei mandar nenhum dos dois trabalhar ou estudar e, afora pequenas crises tão previsíveis quanto passageiras, nos damos muito bem e somos felizes juntos.

Não sei se eles são assim por sorte minha ou por causa de alguma coisa que eu fiz, sem saber direito o que estava fazendo, acertando por puro acaso como acho que sempre acaba acontecendo nessas coisas do coração. Não sei o que fiz, mas sei o que não fiz: nunca transformei meus filhos em reféns do meu amor. Nunca exigi que eles renunciassem às suas vidas por minha causa e nunca renunciei à minha por causa deles, para no futuro não cobrar deles esse preço.

Nunca menti aos meus meninos, nunca fui desonesta com eles, e sempre compartilhei todos os problemas que tive, qualquer que fossse a natureza dessas dificuldades. Criei-os sozinha, mas nunca aleguei isso em meu benefício nem nunca culpei ou responsabilizei o pai de um ou de outra por nada. Meus filhos sempre souberam que foram escolha minha, responsabilidade minha, para o que desse e viesse, incondicionalmente. E sempre tiveram a liberdade de conversar comigo sobre qualquer assunto. Então, sei que fui omissa no quesito do sacrifício, da devoção, da santidade. Mas procurei transformar a nossa vida em algo rico, criativo, ensinando-lhes a suprema qualidade do bom-humor, e a rir da vida e de si mesmos como requisitos para resolver qualquer problema.

Mesmo que ambos não estejam comigo hoje, fico feliz de tê-los criado tão sem culpa que podem me deixar sozinha nesse dia sem sofrerem e sem pensar que eu sofro; e parabenizo a mim mesma por, neste Dia das Mães, que para muitos é dia de obrigações, de cobrança e de chantagem emocional, estar perfeitamente à vontade para almoçar sozinha no shopping e depois ir ao cinema sem me lamentar e sem desdobrar fibra por fibra nem o meu coração, nem o deles.

Um comentário:

Moacy Cirne disse...

Caro Alex: Hoje, no Balaio, você e Maria Bunita estão lado a lado. Ou melhor: ela está por cima de você. Um abraço.