16 de junho de 2007

O que falta na Bienal?

AG Sued
ARTIGO

Por Lívio Oliveira*

A Bienal do Livro de Natal já se constitui em importante evento do calendário cultural do Rio Grande do Norte, frisando-se, desde logo, que a sua iniciativa é louvável por si só, vez que oferece ao público de nosso Estado mais uma alternativa de entretenimento e cultura, ainda que de forma efêmera e pouco profunda. No entanto, por essa falta mesma de profundidade, efetiva-se em meio a alguns equívocos – uns menos, outros mais graves – em sua realização e que se fazem perceber a partir de uma análise superficial mesma, frente à explicitude com que se têm demonstrado em suas primeiras edições nesta terra de Cascudo.

Tem sido assim aos olhos do mais atento observador especializado como também à vista daqueles que, buscando um diferencial no que respeita ao seu rol de diversões ou escolhas culturais, terminam por sofrer decepções no meio do caminho (neste ano, mais longo e molhado, até o distante Centro de Convenções).

Nessa última edição, recentemente concluída, algumas falhas gritantes se repetiram, outras foram tristemente inauguradas.

Dentre aquelas mais freqüentes está a já batida desvalorização dos escritores da terra. Aparentemente lembrados, houve apenas um parcial, incompleto, imperfeito chamamento de alguns a participarem de mesas-redondas, debates e lançamentos, obviamente sempre à margem de alguns expoentes nacionais (muitos não tão convincentes). Não se tem uma lógica de homenagens sérias, de estudos profundos ou de exposição consistente da Literatura Potiguar, nem mesmo da nacional. Nem os mais privilegiados autores da terra, nem mesmo os escritores (raros) convidados a fazer parte direta do evento tiveram repercussão importante e tratamento digno de suas obras e personalidades. Tudo é muito superficial e vazio e, deve-se salientar, não serão cafezinhos e brindes baratos em uma sala VIP improvisada que farão a revolução ou o resgate da Literatura Potiguar ou do Brasil.

Lançamentos e muitos re-re-re-lançamentos (desculpem-nos a falha redacional) foram tratados, também, de maneira rápida e rasteiríssima, não permitindo aos leitores a deglutição (de lembrar, ainda, a fraquinha praça de alimentação) da programação e a compreensão da seqüência lógica dos acontecimentos.

Até mesmo uma iniciativa importante como foi a da premiação de autores mirins em um concurso de contos sofreu com a pouca e rápida divulgação das regras e dos resultados e com os prêmios financeiros de reduzido valor (será que faltou dinheiro também para outros aspectos do evento?).

Num momento em que se começa a trabalhar junto à Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte – a partir de uma iniciativa da União Brasileira de Escritores neste Estado – uma Lei que visa proteger e garantir condições para a formação de um mercado digno para o livro e para o autor potiguar, a Bienal não se propõe a incluir na sua lista de debates nenhum tema (e o da Lei seria imprescindível!) que aprofunde a verdadeira discussão acerca de quem somos, onde estamos e o que produzimos dentro da história literária deste pobre Estado do Rio Grande do Norte e do próprio país. Lembre-se que o povo do Rio Grande do Norte, através de seu governo generoso, destinou somas astronômicas à realização da efeméride, nas palavras da própria governadora do Estado, que, tristemente, levou uma grande vaia por ocasião da palestra do escritor e cartunista Ziraldo. Por quê? Respostas para os organizadores do evento.

Outras mudanças – sempre postas a lume e jamais tratadas a contento – podem ser exemplificadas a partir da banalização das atrações de mercado trazidas ao ambiente da “Feira”. Fácil foi ouvir, com freqüência, que a maior parte dos estandes exibia produtos de má qualidade, para venda fácil (e retorno cultural nem tão evidente), buscando desovar estoques e mais estoques de papel encadernado que, se não fosse um evento como o aqui ora tratado, ficariam anos envelhecendo longe dos consumidores mais incautos (muitos destes que terminam participando – da forma mais angelical – da farsa cultural que se lhes impõem, ocasionalmente).
Importante que os empresários (acreditamos que estão de boa-vontade e boa-fé) que cuidam do evento se sensibilizem e passem a se cercar de pessoas verdadeiramente envolvidas com o universo do livro, da literatura e da cultura neste Estado, constituindo em torno de si um círculo de consultores qualificados que possam demonstrar os aspectos histórico-culturais referentes à atividade da escrita e da leitura, num processo em que se deixe no Rio Grande do Norte, após a chamada Bienal, muito mais do que resquícios de papelaria e livros e autores em miniatura.

Ou, então, uma sugestão mais séria: Que os tais empresários peçam ajuda e orientação a Gabriel, o Pensador.
* O autor é presidente da união brasileira de escritores do Rio Grande do Norte- UBE-RN.

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