2 de julho de 2007

As vozes roucas da Brouhaha

Por Alexandro Gurgel

Definitivamente, a Capitania das Artes acertou na publicação da 8ª edição da revista Brouhaha, que se consolida como um dos melhores periódicos culturais do Rio Grande do Norte. Uma experiente casta de jornalistas e escritores vêm revelando a fina flor da cultura potiguar com textos de altíssima qualidade.

Merecedor de toda celebração, o poeta modernista Jorge Fernandes é destaque da capa pelos 80 anos de poesia. A matéria apresenta depoimentos de estudiosos da obra jorgiana e textos inéditos, que farão parte do livro “Obra Completa de Jorge Fernandes”, organizado pela professora Maria Lúcia Garcia.

Nosso maior sertanista, Oswaldo Lamartine, também é homenageado com textos do cineasta Ricardo Miranda, ornamentado pelas belas fotos de Candinha Bezerra, captadas na Fazenda Acauã, no Seridó. O autor do texto revela que pretende fazer um documentário sobre a vida do sertanista.

Duas excelentes entrevistas com Moacyr Góes e Luís Carlos Barreto mostram a força da literatura potiguar no cinema brasileiro, através do romance de Nei Leandro “As pelejas de Ojuara”, em setembro nas telonas do Brasil inteiro. O jornalista Carlão estréia sua coluna “Observador no escritório” com notas, informações culturais e versos. A coluna destaca o artista plástico Fábio Eduardo, que aparece numa foto clicada por este escrevinhador sem o devido crédito.

O lado lúdico fica por conta de Rodrigo Hammer com o texto “Dos verdes canaviais aos campos de morangos”, fazendo um paralelo entre Ceará Mirim e Liverpool, cidades mágicas para o professor de história Giancarlos, vocal de “O Grogs”, banda que tocará musicas dos Beatles na ilha britânica. No seu “Tantos Palcos”, Véscio Lisboa apresenta vários atos de uma peça acontecida no Forte dos Reis Magos, sob o brilho da lua cheia no Rio Potengi. Desenhos de Novenil e Newton Navarro fecham a revista.

Apesar das belas fotos de Argemiro Lima, a entrevista com Chico Ivan ficou pífia e pobre. O que seria a parte mais importante da revista foi prejudicada pela falta de literariedade do interlocutor que se limitou a escavar a vida pessoal do intelectual currais-novense.

Na entrevista, o jornalista deixou de explorar a poética de Chico Ivan, numa mostra de quem nunca leu um verso do poeta, se limitando a perguntar: “Fale-nos um pouco sobre sua produção literária?”. Assuntos óbvios como James Joyce e o Bloomsday também são pincelados. Uma pena que o entrevistador não tenha conhecimento sobre o barroquismo de Chico Ivan e os 300 anos da poesia barroca no Brasil, que muito influenciou a obra do poeta.

Perguntas curtas, frases feitas e clichês jornalísticos não foram suficientes para explorar o pensamento de Chico Ivan, deixando o leitor entediado e com a sensação de já ter lido aquilo antes, em outras publicações. Nessa entrevista literatiça, fica notório que a Brouhaha precisa de um “assessor cultural” que entenda de literatura para poder tirar melhor proveito nos colóquios com poetas e escritores.

No mais, a revista é a voz rouca dos becos cultuais de Natal.

Um comentário:

Iara Maria Carvalho disse...

caro alex, como faço para adquirir a revista?

abração...