Por Alex de Souza
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Uma crítica ao filme O Homem que Desafiou o Diabo, do cineasta Moacyr Góes, mas, bem mais que isso, uma obra com o carimbo Luiz Carlos Barreto, ficará presa numa encruzilhada tinhosa como as desventuras de Ojuara: assistir ao filme como puro entretenimento, ou como obra de arte.
Digo logo de começo que apostar na segunda opção é tentar encontrar cabelo em ovo. Bem cuidadinho que só ele, o filme tem aquele padrão técnico que se estabeleceu como regra no cinema brasileiro, com uma fotografia bem colocada e um certo apuro cenográfico. O que é bom, mas não suficiente para classificá-lo como um filme com pretensões conceituais.
Resta então vê-lo como cinema-pipoca, a vocação natural da película e a intenção do produtor Barretão. Nesse quesito, o filme sai até bem na foto, pois a história é divertida, desde que você não seja um espectador muito exigente.
O enredo conta a transformação do manicaca Zé Araújo no destemido Ojuara, espécie de herói mítico que resolve “engolir o mundo com cachaça”. Adaptado do romance As Pelejas de Ojuara, o filme não soube lidar com o principal trunfo narrativo da obra de Nei Leandro de Castro, o caráter episódico.
Se o livro é uma colcha de retalhos de histórias vividas e ouvidas por Ojuara, uma característica dos romances picarescos em que se apóia, O Homem... acaba por emprestar esse feitio de forma negativa, parecendo um amontoado de pequenas historinhas sem uma amarração adequada.
Marcos Palmeira está muito bem no papel principal, mas é bom também falar de alguns figurantes de luxo, como Antônio Pitanga, Lúcio Mauro, Renato Consorte e Ryu Rezende (como o poeta fescenino Moyses Sesyom), e a ótima ponta de Leon Góes, como o desfigurado ajudante da Mãe de Pantanha. Hélder Vasconcelos esbanja vigor físico na caracterização do Cão Miúdo.
Apoiando-se em diálogos espirituosos, recheados do nosso linguajar ‘potiguarês’, é justamente nesses momentos em que o filme encontra seu humor. Agora, é difícil saber se o resto do país deve comprar essa idéia, primeiro por achar apenas ‘exótico’ o que para nós é engraçado e pelo forte erotismo presente tanto no livro como no filme, evitando que seja propriamente um programa para toda a família.
Mesmo as piadas, num certo momento, começam a perder força com a desarmonia narrativa. No final, fica uma sensação de que O Homem que Desafiou o Diabo ficou meio incompleto ou que não terminou direito – que nem a Ponte Forte-Redinha, que se esforçou, coitada, mas não ficou pronta a tempo de sair no filme, com suas pilastras solitárias.
Fonte: Coluna Bazar, portal No Minuto
Um comentário:
"Gostei da resenha, muito bem colocada. O filme serve pra diversão e entretenimento, longe se pretender ser conceitual.
Muito bom o nordestino se olhar e reconhecer as coisas da sua terra..."
Grande abraço
Jailson
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