10 de setembro de 2007

Valério Mesquita, o contador de causos

Por Alexandro Gurgel

Valério Alfredo Mesquita nasceu em Macaíba e formou-se bacharel em Direito pela UFRN. Desde cedo, enveredou pelos caminhos da política. Foi prefeito de sua cidade, de 1973 a 1975 e deputado estadual por quatro legislaturas. Valério Mesquita também tem estreitas ligações com a cultura potiguar. Presidiu a Fundação José Augusto, é membro honorário do Conselho Estadual de Cultura por quatro mandatos, membro efetivo da União Brasileira de Escritores secção RN, do Instituto Histórico e Geográfico do RN e da Academia Norte Rio-grandense de Letras, cadeira 21 e, atualmente, é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte.

Doutor Valério, Direito e Literatura se combinam? O que há de comum entre as duas matérias?
Literatura e Direito são duas coisas diversas. Mas, ambos com vida própria. Eu não acho que se harmonizem, elas têm diferenças pontuais.

Em sua opinião, quem faz literatura de qualidade no Rio Grande do Norte?
É difícil fazer literatura de qualidade no Rio Grande do Norte porque não há mercado. No Estado, não há ninguém vivendo de Literatura. Todos os meus colegas da Academia Norte-riograndense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do RN e outras instituições culturais escrevem porque têm algo a dizer. Mas, ninguém pode dizer que seja, na verdade, uma literatura como escreve aqueles que estão na Academia Brasileira de Letras. Nós ainda fazemos uma literatura muito provinciana. De minha parte, eu pesquiso, escrevo causos e histórias. Gosto de fazer a chamada “literatura dos costumes”, do folclore popular, político e social.

Houve um tempo que em Natal tinha muitos poetas. Inclusive, surgiu uma quadrinha que dizia: Rio Grande do Norte capital Natal / em cada beco um poeta / em cada esquina um jornal. O senhor acredita que os tempos mudaram ou ainda há mais poetas do que prosadores em Natal?
Hoje, a quantidade de intelectuais fazendo prosa e poesia são praticamente iguais. Realmente, antes havia mais alumbramento poético. Agora, o número de contistas romancistas e prosadores é igual ao de poetas. Até porque a vida hoje está mais difícil para se fazer poesia. A poesia deve existir. É uma manifestação da própria natureza e da vocação do poeta. Fazer versos é enxergar o lado bom da vida, apesar da paisagem. Eu mesmo gostaria de ter essa vertente de ser poeta. Mas, infelizmente não tenho.

Pra que serve a Literatura?
A Literatura é parte integrante da existência de um povo. Sem a Literatura, seria um desastre. Cultura é discernimento, conhecimento, é conhecer as raízes e a Literatura tem o papel de contar a história de um povo. Um povo sem Literatura é apenas um bando, não é povo.

Qual o papel da Academia Norte-riograndense de Letras para o cenário literário potiguar?
Sou muito amigo do presidente da ANL, Diógenes da Cunha Lima, e acredito que a Academia tem um grande papel a desempenhar. Mas, a ANL está trabalhando lentamente, um pouco parada nesse cenário. Não quero que minhas palavras sejam recebidas como críticas. É apenas uma constatação. Outros acadêmicos têm essa mesma impressão. Nós queremos uma Academia mais atuante. Como atuante é o IHGRN, tendo o doutor Enélio Petrovich à frente promovendo o Instituto. Ele é um dínamo em constante rotação comemorando eventos, fazendo palestras, trazendo escritores de outros Estados do Nordeste, etc. É isso que a ANL está precisando. Por exemplo: nós temos vários necrológicos (discurso em homenagem aos acadêmicos falecidos) a serem feitos para a vaga de Dom Nivaldo Monte, Aluizio Alves, etc. A ANL precisa se tornar mais atuante nesse contesto literário no Rio Grande do Norte e eu faço um apelo ao presidente para que ele se volte mais para o papel que a Academia deve desempenhar no seio da sociedade.

A intelectualidade mossoroense está bem representada na Academia Norte-riograndense de Letras?
Mossoró precisa ter mais espaço na ANL. É inaceitável que um intelectual como Tarcísio Gurgel fique fora da Academia e ainda há outros nomes. Mossoró sempre esteve bem representada pela inteligência fulgurante dos seus filhos e precisa aumentar sua representatividade na ANL.

Afinal, Macaíba é sua Pasárgada?
Macaíba é minha Escola de Sagres. Eu tenho um grande amor pela minha terra. Macaíba me deu quatro mandatos na Assembléia Legislativa do Estado, fui prefeito e tive uma importante participação política na cidade ao longo de trinta anos. E toda semana eu escreve algo sobre Macaíba nos jornais e por isso, a cidade está permanentemente nas manchetes dos jornais (risos), onde publico minhas crônicas, causos, etc. Ali é um verdadeiro filão de personagens populares. Nos quatorze livros que lancei, Macaíba está sempre presente.

Nesse universo de personagens, causos e história, o que o senhor destacaria de maior encantamento em Macaíba?
A história de Macaíba é muito rica. A cidade foi o berço de figuras importantes como Tavares de Lira, Henrique Castriciano, Auta de Souza, Alberto Maranhão, Augusto Severo, Otacílio Alecrim, João Chaves, José Melquíades, e outros nomes que fizeram a história brasileira e do Rio Grande do Norte. Macaíba empolga pelo seu passado com o Solar do Ferreiro Torto, o Solar dos Guarapes que eu clamo tanto pela sua restauração pelo Governo do Estado. O Solar dos Guarapes está abandonado na estrada de Macaíba, mas foi o primeiro empório comercial do RN quando todos os produtos saíam através dos rios Jundiaí e Potengi para serem exportados para a Europa. Até hoje, o RN não considerou tal fato como importante.

O senhor já foi presidente da Fundação José Augusto. Como o senhor está vendo o comportamento da FJA para a fomentação da cultura no Estado?
Eu passei pela FJA e vivi todas as dificuldades que todos seus presidentes viveram como Diógenes da Cunha Lima, Sanderson Negreiros, Franco Jasielo, Cláudio Emerenciano, François Silvestre. Fazer cultura no Estado é muito difícil e parece até uma atividade marginal. Os governos não têm muita sensibilidade com os projetos culturais. É preciso que cada governante tenha esse interesse. Então, a FJA passa por certa dificuldade porque os recursos para a cultura são poucos. A prioridade dos governos é com obras faraônicas. Esse tipo de coisa macula a sensibilidade daqueles que fazem a cultura. Eu não vou dizer que o atual presidente faz um bom trabalho ou não. Ele deve está fazendo a parte dele.

Entre os 14 livros que o senhor escreveu, eu destacaria dois: “Trilogia do cotidiano”, que são causos políticos pelo Estado e o livro “Macaíba de Seu Mesquita”, qual a relação entre esses livros?
Eu passei trinta anos na política dedicando minha vida a fazer política por Macaíba e esqueci um pouco o lado literário. Quando assumi a Fundação José Augusto, já fora do âmbito político, a cultura voltou a aflorar o gosto de escrever e tive condições intelectuais para colocar no papel aquilo que eu tinha armazenado. Então, eu escrevi “Macaíba de Seu Mesquita”, explorando os causos dos personagens macaibenses que eu presenciei e as coisas da política do seu tempo que meu pai contava. Depois, vieram outros livros até o “Trilogia do Cotidiano” que são perfis e causos, não só de Macaíba, mas do RN inteiro. Inclusive, alguns em Mossoró. O livro também é memorialista com crônicas diversas.
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Há algum livro no prelo para ser lançado?
Eu reeditei dois livros: “Macaíba de Seu Mesquita”, a primeira edição foi em 1982 e agora está revisado e ampliado; e o livro “Pisa na Fulô” que traz um vagão de histórias que não couberam no livro anterior. Eu também vou lançar um novo livro chamado “Em defesa da Fé”, um livro que vai mostrar meu lado espiritualista. Pretendo laçá-lo até dezembro. Há também outro livro de causos que estou escrevendo cheio de causos em Mossoró e por isso, vou lançar por lá também.

2 comentários:

Anônimo disse...

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/escandalo-e-decadencia/147309

Como uma pessoa tem capacidade mental de publicar algo como isso num jornal da cidade???

Ramilla Souza disse...

Valério Mesquita, o homofóbico.