29 de outubro de 2007

ENTREVISTA - Direto ao Assunto com José Nêumanne Pinto


Por Alexandro Gurgel

Caricatura: Túlio Ratto


Nascido na pequena cidade de Uiraúna, no Vale do Rio do Peixe, Alto Sertão paraibano, na fronteira entre a Paraíba, o Rio Grande do Norte e o Ceará, José Nêumanne começou sua carreira de jornalista no final dos anos 60 como crítico de cinema e repórter de polícia no Diário da Borborema, de Campina Grande.
Seguindo a saga nordestina, José Nêumanne saiu da Paraíba para ganhar a vida em São Paulo. Em terras paulistas, trabalhou na Folha de S. Paulo, foi secretário, chefe de redação e repórter especial da sucursal paulista do Jornal do Brasil, editor de política, de opinião de O Estado de São Paulo. Foi, ainda, colunista na edição em espanhol do jornal The Miami Herald, onde escrevia um artigo semanal sobre o Brasil. Desde 1996 é editorialista do Jornal da Tarde, é comentarista diário da Rádio Jovem Pan e comentarista político e econômico no programa diário “Direto ao Assunto”, no SBT.
Na sua infância como seminarista, foi muito aficionado à leitura, momentos que fariam a base de sua carreira profissional. Foi influenciado por grandes escritores e poetas como Augusto dos Anjos, Castro Alves, Manuel Bandeira, Truman Capote, Jorge Luís Borges, James Joyce, Albert Camus, entre outros.
José Nêumanne atribui a sua paixão pelas letras e pelo jornalismo às histórias que ouvia de sua mãe nas noites de lua do sertão paraibano de Uiraúna. Desde essa época, ele sonhava em escrever suas próprias histórias. Atualmente, ele tem uma carreira de sucesso, com mais de dez livros publicados, três de poesia, um romance e cinco de reportagens e ensaios políticos — entre romances, biografias e poesias. É um dos jornalistas brasileiros mais celebrados.
Seu nome é uma corruptela do nome do cardeal inglês John Henry Newmann. Ao registrá-lo, seus países não levaram escrita a grafia correta do nome e o escrivão grafou como ouviu: “nêuman”, acrescentando um “e” para aportuguesar.
Numa manhã azul de domingo, a equipe da Papangu tomou café ao lado de José Nêumanne, num hotel na Via Costeira natalense, tendo a companhia do escritor Nei Leandro de Castro e do músico Mirabô Dantas. Na entrevista, falamos de literatura, poesia, música, jornalismo, autores brasileiros, movimento Armorial, entre outros tópicos.


José Nêumanne, o que há em comum entre o menino sertanejo de Uiraúna e o famoso jornalista e escritor?
Na verdade, eu sou o menino sertanejo de Uiraúna. Eu me sinto ainda como se fosse um menino do sertão. É engraçado porque há dois anos, quando a TV Tambaú, da Paraíba, me homenageou no programa “Personalidade de Tambaú”, eu fui à Uiraúna refazendo todo aquele trajeto e foi como se eu tivesse vivenciando o menino sertanejo de Uiraúna. Eu sinto todas as características do menino sertanejo com aquela ingenuidade de olhar o mundo com grande curiosidade. Como todo bom sertanejo, eu me sinto um profissional da vingança e da sobrevivência.

Como jornalista, você já adquiriu reconhecimento nacional. E como poeta e escritor?
São coisas diferentes. Eu tenho uma carreira jornalística e isso me faz ser reconhecido como jornalista. Como escritor, eu estou buscando reconhecimento. Como fiz no livro “O Silêncio do Delator”, gosto de fazer umas comparações sobre esse assunto. O Pelé foi o maior atleta do século e, no entanto, ele gostaria de ser reconhecido como um compositor. Então, eu sou um jornalista que gostaria de ser reconhecido como poeta e escritor. Sou um poeta bissexto e sou um escritor mais bissexto ainda. Um romancista de dois romances. Um dos romances, “Veneno na Veia”, é um romance meio realizado porque, segundo meu amigo Rui Fabiano, grande romancista e jornalista, é um romance que vai até a metade e depois ele deixa se impregnar pela linguagem jornalística e se perde. O outro romance, que é “O Silêncio do Delator”, foi premiado pela Academia Brasileira de Letras como o melhor livro de 2004 em 2005. Esse prêmio é muito importante pra mim porque eu não fiz a inscrição no prêmio. Os acadêmicos se reúnem e escolhem aleatoriamente um livro que eles consideram importante. É também importante porque foi o primeiro romance a receber esse prêmio. Eu me orgulho muito dele, mas ainda não considero que esse prêmio seja uma consagração ou me realize como escritor. Eu acho que ainda sou um escritor iniciante, marginal e em busca de uma solidez do meu ofício.

Numa entrevista, você declarou que sua poesia pretende aproximar cada vez mais a alma do texto, recorrendo ao mínimo possível a truques verbais. Você acha que a poesia é mais inspiração do que um trabalho árduo em busca da rima e da métrica perfeitas?
Metade da minha vida como poeta foi uma busca formal e exagerada. Foi uma “sub-cabralisse” bastante transpirada e não muito inspirada. Eu acho que atingi a maturidade poética no livro chamado “Barcelona Borborema”, um dos meus três livros de poesia, um livro metade sobre Barcelona e a outra metade sobre a Borborema. Sobre Barcelona, é uma inspiração cabralina, formal e rigorosa. A outra parte sobre Borborema é em relação a Campina Grande, que é minha descoberta e é o sopro da inspiração, como chama Bráulio Tavares. Que é essa coisa a que você está se referindo e é o que eu busco cada vez mais. Onde estou escravo da minha inspiração e transpirando cada vez menos para tentar ser o mais possível fiel ao que a inspiração me traz. Se hoje eu tivesse que usar uma epígrafe para minha poesia, eu usaria o que Adélia Prado diz: “Dos meus poemas, eu só tenho a letra”.

O que danado a terra catalã de Barcelona tem a ver com o sertão da Borborema?
Eu vou usar uma frase do meu “inimigo” de infância, Bráulio Tavares, que foi dita pelo Antônio Nóbrega num show: “o que danado tem a ver violino com frevo?”; e eu digo: “eu”, porque sou fã das duas.

Como acontece sua criação poética e como você definiria seu estilo como poeta?
Eu fui poeta vanguardista do grupo de Poema-Processo. Eu tinha uma ligação muito grande com Natal. O grupo de poetas em processos tinha dois núcleos: um no Rio de Janeiro, com Vlademir Dias Pinto e Álvaro de Sá, e, em Natal, com Nei Leandro de Castro, Moacir Cyrne, Dailô Varela, Falves Silva e Anchieta Fernandes. Nessa época eu estava morando em Campina Grande, tive contato com esse pessoal em João Pessoa. Então, participei desse grupo e cheguei a fazer uma exposição em Campina Grande que foi apreendida pelo Exército, na época da ditadura. Depois, parti para um tipo de poesia, como falei anteriormente, muito cabralina. José Paulo Paes registrou que era uma poesia muito lacônica, de poucas palavras. Uma poesia mais de jogar palavra do que colocar palavras. Estou buscando a comunicação direta entre a palavra e a emoção. Eu estou, cada vez mais, procurando levar ao leitor aquilo que sinto. Não me classifico em nenhuma escola. Sou um poeta que tem ligação com Castro Alves, que considero o maior poeta brasileiro de todos os tempos, porque minha mãe ficava declamando versos dele nas noites claras do sertão, em Uiraúna. Minha obra poética está, cada vez mais, conectada com as obras de Castro Alves e Augusto dos Anjos. Quando faço poesia entro numa espécie de transe. Alguns poemas meus são sonhados. Há um poema chamado “Poeira de Estrelas” que são versos sonhados inteirinhos, do qual Zé Ramalho pegou a primeira estrofe e transformou numa canção muito bonita chamada “Norte do Norte”, que ele gravou com Sandra de Sá.

Seu romance memorialista “O Silêncio do Delator” é o retrato de uma geração amordaçada, onde o jornalismo era feito de uma maneira heróica. Então, naquele tempo só se dava bem quem era delator?
Não. O delator sempre se dá mal porque, no fim, o delator tem que prestar contas a Deus. Há um caso clássico do delator que entregou meu grupo, do qual a principal vítima foi a minha namorada, mulher, mãe dos meus filhos, avó dos meus netos, Regina Celli, a maior vítima dessa situação em Campina Grande. O delator era um professor, um cara que era dono do Colégio João de Assis, um canalha, um crápula, e eu considero que ele não foi bem-sucedido. Bem-sucedidos somos nós, a Regina e eu, que sobrevivemos à delação dele e ao regime a que ele serviu. A minha geração é a alma do livro e tudo que conduziu o livro durante os vinte anos em que ele foi escrito e nove meses no computador. Essa foi a geração que se propôs a revolução política e nós terminamos ou na ditadura ou nesse populismo corrupto em que estamos imersos.

E o que você leva do jornalismo para a literatura de ficção?
Um dos lemas da minha juventude era uma frase do Ernest Hemingway, que dizia: “Todo bom escritor tem que passar por uma redação de jornal. Mas, para ele ser bom mesmo, ele tem que sair dela”. E até hoje eu não consegui sair da redação de rádio, jornal e televisão. Eu só espero que os vícios do jornalismo não interfiram na minha prosa de ficção e na minha poesia. Minha prosa provém de um universo onírico. Quando resolvi escrever “O Silêncio do Delator” prometi ao Pedro Paulo de Sena Madureira, meu editor na época, que faria um livro desprovido de técnicas narrativas. Por fim, terminei fazendo um livro complicadíssimo sob o ponto de vista da narrativa, onde o James Joyce falou mais alto do que o Jorge Luis Borges dentro de mim. Então, o ato de escrever é um processo que não controlo.

E essa linguagem rebuscada é o futuro do jornalismo impresso que caminha para uma tendência de textos mais requintados para um público leitor específico?
Quando comecei no jornalismo meus ídolos eram Truman Capote e Tom Wolf, a turma do Niel Jonas. Minha escola é basicamente a “new Jonas”, ou seja, a procura de levar para o jornalismo técnicas de ficção e usar na realidade material de ficção. No século XX, há três livros capitais que exemplificam bem isso: “Ulisses”, de Joyce; as ficções de Borges e o “Estrangeiro”, de Albert Camus. Agora, depois desses anos todos no jornalismo, acho que o livro “A Sangue Frio”, de Truman Capote, completaria um quarteto. “Ulisses” seria o laboratório da linguagem; o Borges seria a perseguição da idéia; o Camus, que é o grande profeta do século XX, e, por fim, o Truman Capote, que faz o inverso do Borges, que transforma a realidade em ficção. O jornalismo impresso deve deixar a notícia para os outros meios como a internet e o rádio. Hoje a gente vive recheado pela informação, onde 90% é inutilidade. O papel do jornal é filtrar essas informações para levar qualidade para o leitor. Como trabalho nos quatro meios (rádio, jornal, internet e televisão), me sinto à vontade para falar sobre isso.

Você teve seus versos gravados por Zé Ramalho e agora sua poesia faz parte de uma parceria no disco “Mares Potiguares”, de Mirabô Dantas. Você escreve versos destinados para canções ou já nascem como música?
Eu tenho processos diferentes para as parcerias. Esse poema que Zé Ramalho musicou, que falei antes, era um poema que nunca pensei que fosse virar uma letra para uma canção. Eu já fui parceiro do Zé com um processo diferente, quando o Zé recebeu uma encomenda para uma música figurar numa trilha sonora de uma novela da TV Bandeirantes. Nós passamos um fim de semana num hotel no Leblom e fizemos uma canção chamada “Lua semente”, que foi gravada por Amelinha. Há outro parceiro, Gereba, que mora em Monte Santo, no interior da Bahia, que musicou uma letra que fiz. Também fui parceiro do Mirabô Dantas nos anos 70, quando o Mirabô morava lá em casa, em São Paulo. E aconteceu uma coisa muito interessante nessa parceria, é que eu lembro perfeitamente de todas as letras que fizemos. É muito variado o universo dessas parcerias.

Excetuando Câmara Cascudo, que não era poeta nem romancista, a literatura potiguar nunca produziu nomes que se destacaram no cenário nacional, ao contrário de vizinhos nossos como Ceará, com José de Alencar, ou Augusto dos Anjos, na Paraíba. O que está faltando na literatura potiguar para que ela aconteça no Brasil?
O Rio Grande do Norte tem uma poetisa maravilhosa que é Auta de Souza e um grande poeta que é Jorge Fernandes. Há também outro poeta que considero muito injustiçado, que é José Bezerra Gomes. Atualmente, a literatura potiguar tem grandes nomes em atividade, produzindo, como Nei Leandro de Castro, cujo romance virou filme. São as circunstâncias do consumo dessa literatura. Não sei quanto a outras opiniões, mas eu considero Jorge Fernandes, Auta de Souza e José Bezerra Gomes grandes poetas que deveriam figurar em qualquer antologia poética nacional.


Apesar da Paraíba e o Rio Grande do Norte serem Estados vizinhos, há uma grande distância entre poetas, músicos, artistas, escritores, jornalistas, etc. O que está faltando para que essa integração gere fluxo?
Eu sou paraibano, mas nasci a sete quilômetros do Rio Grande do Norte. Meu pai era paraibano e minha mãe era potiguar. Eu nasci numa região onde o Rio Grande do Norte e a Paraíba eram a mesma coisa. Na verdade, eu sou o produto de uma cultura paraibana, potiguar e cearense. Então o Fagner, que é de Orós, é mais conterrâneo meu do que José Lins do Rêgo, que nasceu na Zona da Mata. Há também o Zé Ramalho, de Catolé do Rocha, na mesma região. Eu acho que temos uma identidade cultural muito maior do que com o José Américo de Almeida, que nasceu em Areia. Eu acho que esse isolamento que você fala existe também entre Natal e Mossoró, Campina Grande em relação a João Pessoa. Você está falando do isolamento que existe entre João Pessoa e Natal e não o da Paraíba.

Você ganhou um prêmio, “Senador José Ermídio de Morais”, pela Academia Brasileira de Letras, de melhor livro em 2004 com o romance “O Silêncio do Delator”. O livro também figurou entre os dez finalistas do “Prêmio Literário de Portugal”. Você acha que está no caminho literário certo ou ainda há espaço para experimentalismos?
Quando terminei de escrever o livro, meu orgulho é que não dava para situar o livro. Quinhentas páginas sem um lugar específico. A trama acontecia em Nova York, Paris e São Paulo, mas a ação principal acontece num lugar incerto e não sabido no mundo. Meu “inimigo” de infância, Bráulio Tavares, escreveu um artigo num jornal em Campina Grande dizendo o seguinte: “José Nêumanne tentou nos enganar, mas aquilo é Campina Grande. Eu reconheço Campina Grande em cada linha do livro dele”. E o sogro do meu filho, que é lisboeta, disse: “Mas, engraçado, eu pensei que era em Lisboa”. Meu próximo projeto que quero escrever, vou fazer exatamente o oposto. Quero que seja situado num lugar, mas sem definição de tempo. Eu não sei se será um livro experimental. Agora, “O Silêncio do Delator” é um livro experimental porque é um livro falado em várias vozes.

Você acredita que o Movimento Armorial, criado por Ariano Suassuna, será reconhecido como um estilo de vanguarda, uma nova escola absorvendo literatura, cinema, artes plásticas, música, teatro, etc?
Sou muito amigo e admirador do Ariano. Acho o “Auto da Compadecida” um clássico e a “Pedra do Reino” eu considero que é o maior romance brasileiro desde “Grande Sertão: Veredas”, do João Guimarães Rosa. Não participo desse endeusamento achando que Ariano é maior do que Machado ou Guimarães. É preciso ter calma. Há muita influência da TV Globo nessa supervalorização da obra de Ariano. Eu acho o Armorial um movimento magnífico. Gosto muito da literatura do Ariano e gosto também da musicalidade do Antônio Nóbrega.

Agora que o romance de Nei Leandro, “As Pelejas de Ojuara”, está chegando aos cinemas, você acha que está na hora do brasileiro descobrir o romance nordestino? Antigamente, só havia a literatura de Jorge Amado.
Acho que o romance do Nei veio na hora certa e tenho certeza que foi muito bem-sucedido em termos de adaptações cinematográficas. E o grande público só vai conhecer o romance quando passar na televisão. O filme ficará pouco tempo na tela e depois vai para a televisão, que é a grande vitrine do mundo.

O Supremo Tribunal Federal recebeu denúncias dos parlamentares envolvidos no mensalão porque eles têm foro privilegiado. Mas, o que você acha do STF julgar Delúbio, Valério, Silvinho e todo o baixo-clero que não detém mandato e, portanto, não poderiam gozar dos mesmos privilégios? Será que agora todo mundo vai querer ser julgado pelo STF?
Eu acho que esse julgamento faz parte de um momento histórico. Não pelo fato de que possa vir a acabar com a impunidade no Brasil. Nossa grande praga é a impunidade. Esse julgamento dá um tranco numa caminhada que o PT vem fazendo. Eu sou da turma do “fora Lula” e “fora FHC”. Mas, eu acho que as instituições têm que andar e Lula foi eleito para isso. Agora, ele tem que respeitar as instituições porque ele jurou respeito à Constituição. Acho que o Brasil deve ao Joaquim Barbosa e ao Antônio Fernandes de Souza, e ao Lula, porque foi Lula que nomeou os dois. E tudo isso fez parte de uma técnica muito sofisticada, inadequadamente apelidada de mensalão. Não houve mesada. O que houve foi um método competente de comprar a decisão de alguns deputados. Esse método foi desmantelado por causa do excesso de arrogância do José Dirceu, que, em vez de dar o dinheiro ao deputado Roberto Jefesson, resolveu expulsar o Roberto Jefesson do jogo, achando que ele tinha poder e o Roberto Jefesson não tinha. Graças a Deus o José Dirceu não pagou e Roberto Jefesson denunciou o esquema. Com isso, José Dirceu perdeu a Casa Civil e o mandato de deputado, e, no entanto, é o lobista mais bem-sucedido no Brasil. A maioria dos cargos importantes no governo foi nomeado por José Dirceu, que aparelhou o governo para ele. Qualquer que seja o governante que venha depois do Lula, vai ter problemas no governo com todos esses burocratas nomeados por José Dirceu. Mas, o STF barrou o projeto de poder do PT.

E esse projeto do PT é para durar quanto tempo? Na sua opinião, quais as perspectivas para o PT permanecer no poder?
Segundo a Folha de S. Paulo, o projeto do PT é um projeto eterno. É para tomar a República e ficar com ela para o resto da vida. O Lula é apenas um oportunista que está levando vantagem nesse processo, entrando na história política brasileira. Mas a grande cabeça do projeto do PT é José Dirceu, que desenvolveu um projeto socialista. Agora, Lula é muito inteligente porque ele fez uma coisa fantástica que nunca ninguém praticou antes. Ele encheu o rabo dos banqueiros de dinheiro e deu comida para os pobres, deixando a classe média espernear porque não tem número para derrotá-lo na eleição.

Você tem declarado que o melhor jornalismo é aquele que é hostil ao poder. Usando a velha fórmula de reclamar para chamar a atenção do leitor ainda funciona?
Eu uso essa frase no sentido institucional. Quando você ocupa o poder, você tem todo equipamento para dominar uma sociedade. Então, é preciso que na sociedade tenha uma voz que reaja, que impeça a autoridade de se tornar um ditadorzinho. E esse é um papel exercido pelo bom jornalismo.

Você sempre é convidado para bienais, congressos, palestras, exposições, etc. Você cobra para expor suas idéias em público?
Eu tenho uma empresa que se chama “Nêumanne Assessoria de Comunicação” e ela cobra. Até porque algumas empresas estão cobrando para assistir à minha palestra. Agora, quando participo de eventos para a Academia Brasileira de Letras ou um evento para estudantes, eu não cobro.


Você foi convidado pela prefeitura de Natal para participar do II Encontro de Escritores, em novembro. O que você vai trazer para o debate?
Minha idéia é falar sobre jornalismo e literatura, questionando até que ponto a prática influencia a ficção. Agora, a prática me mostra que sempre um debate termina se falando em política. Como sou comentarista de televisão, é natural que as pessoas queiram saber minha opinião sobre a política brasileira.

Você acredita que a mídia televisiva vai direto ao assunto?
Não. A televisão é uma máquina de entretenimento e não tem um compromisso maior com a população.

Você tem pretensões de se tornar um imortal, tanto paraibano, paulista ou brasileiro?
Tive dois grandes traumas na minha vida e são relacionados com a Academia. Um foi na Academia paulista, quando eu estava praticamente eleito e houve um empate. E o segundo foi na Academia paraibana, quando fui praticamente empurrado para participar de uma disputa que eu não queria e terminou sendo confundida como uma luta política. A disputa numa vaga para a Academia Paraibana de Letras me reduziu a um membro de um grupo contra o outro. Coisa que não me satisfez. Eu tenho sido muito assediado para ir para a Academia Paulista de Letras, mas tenho resistido bravamente porque esse trauma não está resolvido dentro de mim. E sobre a Academia Brasileira de Letras, apesar de eu ter bons amigos por lá, eu não tenho nenhuma pretensão e espero não vir a ter.

3 comentários:

WALSIL disse...

Discordo do inteligentíssimo Neumanne quando ele diz que o bom jornalismo tem que fazer oposição ao poder. O bom jornalismo tem que retratar os fatos da maneira como eles são, imparcialmente e levando o máximo de informações para que o leitor, telespectador ou ouvinte possam formar sua própria opinião.Do que o jornalismo brasileiro está muito longe de alcançar.

Anônimo disse...

Parabéns por mais essa bela entrevista, grande Alex Gurgel!
Abraços!

Anônimo disse...

Esse Neumanne é um ignorante sem tamanho. Não sei de onde tiraram que esse homem tem alguma inteligência. Arrogant e precipitado (vide suas opiniões infelizes sobre política). Sua obra como literato não lhe dá respaldo para entulhar a TV com preconceitos e idéias sem o menor sentido. É lamentavel que um homem como esse tenha espaço na TV brasileira. E veja: Como comentarista Político!