19 de fevereiro de 2008

O Urso da Tropa


Por Clotilde Tavares

Há poucos dias o filme “Tropa de Elite” ganhou o Urso de Ouro do Festival de Berlim. Nas listas da Internet surgiu todo tipo de comentário, desde aqueles que ficaram felizes com o prêmio até os que diziam coisas do tipo “Meu Deus, tenho vergonha de nossas mazelas expostas para os europeus”. A preocupação dos internautas é porque o filme mostra uma situação localizada mas que passa para o mundo – ainda segundo os internautas - a impressão de que no Brasil, de norte a sul, é daquele jeito. Outros se mostram preocupados pelo fato de o filme transmitir também a idéia de que o Brasil é um país onde imperam a corrupção, a violência, a desonestidade, a insegurança.

Aí eu fiquei me lembrando dos muitos filmes americanos de gangster, polícia e serial-killers. Lembrei dos filmes de Fellini, Antonioni e Vittorio de Sica, mostrando a pobreza e o atraso das pequenas vilas e cidades italianas. Lembrei dos filmes franceses mostrando um monte de gente infeliz, se amando mecanicamente. Será que qualquer pessoa com um mínimo de senso comum, ao ver esses filmes, faz essa generalização tão temida? Ver Tropa de Elite e achar que o Brasil se reduz a uma favela com tráfico e tiroteios é a mesma coisa que ver Erin Brocowicz e achar que todas as empresas americanas poluem o ambiente e matam gente, ou ver Brokeback Mountain e achar que todos os cowboys são gays.

Um filme é uma obra de arte completa, onde não se vê somente o enredo, a história, mas no seu julgamento entram outros critérios, como roteiro, direção, edição, direção de arte, trabalho dos atores, para citar alguns. Nenhum festival dá prêmio a um filme somente pela história que ele conta. E o filme Tropa de Elite, pelo ritmo ágil, quase frenético, imprimido pela excelente edição, pelo trabalho irrepreensível dos atores, pela fotografia, pela direção segura, mereceu o prêmio sim.

Agora pense comigo, meu caro leitor: neste momento, enquanto escrevo este artigo, são dez e quarenta da noite. Está fazendo um calor danado, há uma lua no céu e eu não posso descer do apartamento e caminhar pelo meu bairro de Tambauzinho porque não é seguro! Isso ocorre em praticamente todas as cidades do país. Acho isso um verdadeiro escândalo, eu ficar trancada em casa porque os bandidos não permitem que eu ande na rua na hora em que quero. A corrupção campeia, desde o escândalo dos cartões corporativos até o menino que entra no cinema com a carteira de estudante do outro, o que é desonestidade sim!

Ah, minha gente! O filme Tropa de Elite não é violento. Violenta é a realidade, em cima da qual o filme foi feito.

Texto publicado n'A União, João Pessoa PB.

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