20 de junho de 2008

Acari, a vedete catingueira do Seridó

Texto e fotos: Alexandro Gurgel
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Quando o carro aponta no alto do quilômetro duzentos da BR 427 depara-se com Acari, uma típica cidade seridoense encravada nas encostas ocidentais da Chapada Borborema. Considerada a cidade mais asseada do Brasil, Acari é uma das mais antigas cidades seridoenses e carrega a cultura de seu povo entranhada em cada recanto de suas casas coloniais, onde são cultuados os costumes do sertão.
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A tradição de ornar a cidade, feita uma vedete do teatro de revista, vem do tempo do império, quando foi criado uma resolução obrigando a população limpar as frentes de suas casas, durante as festas do município, sob pena de pagar duzentos réis para as despesas da Câmara Municipal cada vez que faltasse a limpeza. Com o tempo, a obrigação tornou-se consciência dos acarienses que se orgulham em morar na “cidade mais limpa do Brasil”.
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Acari é nome de um peixe ligeiro que corre em água doce, de escamas ásperas com um palmo de comprimento, muito semelhante ao bagre. A farta presença do peixe nas águas do Rio Acauã atraiu os índios Cariris, os primeiros habitantes, que deram nome ao lugar. De acordo com o escritor Manoel Dantas, no livro “Homens de Outrora” (Irmãos Pogetti Editora, RJ 1941), a palavra Acari é de origem Tupi, vem de “caraí”, aquele que arranha, alusão as asperezas do peixe.
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No início do século XVIII, quando começou a colonização do Seridó com a expansão das fazendas de gado , o sargento-mor Manuel Esteve de Andrade fundou um povoado, erguendo uma Capela na localidade consagrada a Nossa Senhora da Guia, que se tornou a matriz da cidade algum tempo depois. No ano da graça de 1835, o povoado desmembrou-se de Caicó e tornou-se a mais nova cidade do Rio Grande do Norte.
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A cidade se ergue como a terra de Acari, baseada na presença marcante do pequeno peixe cascudo e na fervorosa devoção a Nossa Senhora da Guia. Antes mesmo de nascer, esses tabuleiros na ribeira do Rio Acauã acompanharam a Guerra dos Bárbaros e a carnificina que culminou com o extermínio dos índios Cariris e Tapuias que habitavam as margens dos rios Seridó e Açu.
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Roteiros arqueológicos, turismo de aventura, religioso e cultural faz de Acari uma das mais charmosas cidades do Rio Grande do Norte. As festas do município têm fortes marcas tradicionais, congregando milhares de pessoas. Em torno do andor de Nossa Senhora da Guia, a festa da santa ocorre na primeira quinzena do mês de agosto; a emancipação política comemorada no dia 11 de abril; a Festa do Pescado no mês de maio; em junho tem festa junina; e no início de novembro, a tradicional Pega de Boi no Mato, na Fazenda Pitombeira.

2 comentários:

Luiz Alberto Machado disse...

Olá, amigAlexadro, tirei hoje a tarde para curtir tudo por aqui. Sempre um trabalho primoroso, parabens. É bom demais poder desfrutar do seu excelenete trabalho.
Abração & vamos juntos!!!
www.luizalbertomachado.com.br

Alma do Beco disse...

Acari
Luis da Câmara Cascudo

Acari, na região do Seridó, é a velha evocação regional. Nem mesmo Caicó, capital da zona tradicional, conserva as histórias, as lendas e mesmo as figuras que surgem naturalmente na palestra dos acarienses. Acari é de longo passado e seus filhos amam recordar os velhos moradores, os fazendeiros plantadores nas várzeas e que, com braço ousado, penduraram a semente das vilas nas encostas ásperas da serra.

Como todas as cidades sertanejas, Acari foi “curral de gado” e sua crônica é uma narrativa do esforço humano disciplinando as forças convulsas da natureza, num milagre diário de adaptação.

Povoamento de Acari

Em 1700, o vale do Acari era habitado pelas gentes vindas com o capitão Afonso de Albuquerque Maranhão, sesmeiro de 25 léguas ao longo do rio. Em 1725, o baiano Manuel Esteves de Andrade fixou-se na fazenda “Saco”, comprada a um pernambucano, Nicolau da Cruz, que ali vivera até 1718.

Manuel Esteves, com sua mãe e servos, trabalhava num deserto. A paróqui mais próxima era Piancó. Ouvir uma missa significava oito dias de viagem. Manuel Esteves de Andrade, que tinha o posto de sargendo-mor, requereu ao bispo de Olinda, Dom José Fialho,, em 11 de novembro de 1737, e recebeu despacho e provisão para erigir uma capelinha a N. S. da Guia a 14 de abril de 1738. Derredor da capela, agruparam-se as moradas. Assim viveu Acari.

Antes da capela ser construída, o coronel Antônio Garcia de Sá Barroso, baiano, em 1730, morava numa fazenda de gado perto do local onde se ergueu a casa-de-Deus, à margem do Acauã, no lado leste. Dez anos antes, já Tomaz de Araújo Pereira, português do Minho, viera e morava na fazenda “Picos de Baixo”, onde está o sítio “São Pedro”, hoje município de Jardim do Seridó.

Em 1752, ou antes, o coronel Caetano Dantas Correa fundou “Picos de Cima”. Para o lado da nascente, fixaram-se Cipriano Lopes Galvão os Bezerra de Medeiros. O capitão-mor Manuel de Madeiros Rocha fez a fazenda “Remédios”, hoje Cruzeta. São esses os “troncos” da família seridoense de Acari. Troncos venerandos e comuns.