17 de junho de 2008

Entrevista de Heloísa Buarque de Holanda à Lívio Oliveira

Foto web
A poesia ou literatura "marginal" ainda tem espaço neste tempo informatizado e globalizado?
Acho que a poesia sempre tem espaço na História. Mas de formas diferentes em cada momento. Hoje não vejo que possa ser repetido o papel histórico e o impacto político da poesia marginal. O que não quer dizer que a poesia pessoalizada, da improvisação, etc, não tenha seu lugar garantido em nossos dias.
-
Que razões existem para o reduzido mercado editorial para a literatura, em geral, e principalmente para a poesia no Brasil? Há soluções à vista?
As razões são óbvias: O descaso do estado com as prioridades do ensino no país. O Brasil não é um país de leitores. Assim, não há como ser uma país de editoras.
-
Qual é a real busca de um escritor? O que o move?
Não me sinto capaz de responder porque não sou escritora. Mas , como crítica, posso dizer que o que me move é realizar um trabalho que contribua para a transformação social.
-
Que iniciativas editoriais no campo literário têm dado certo no Brasil?
Temo dizer que são as de mercado mesmo. O que, de certa forma, reforçando economicamente nossas editoras, podem terminar abrindo espaço para inovações editoriais futuras.
-
As desigualdades regionais ocultam talentos das letras?
É claro que sim. Isso pode ser visto em casos como o do site Overmundo, no qual explodem talentos até então desconhecidos a cada minuto. A demanda reprimida de visibilidade das literaturas regionais deve sugerir e promover ações similares que são muito importantes.
-
Há novidades interessantes na literatura do Brasil?
Nunca houve tantas. Os espaços se abriram, a escrita está invadindo outros gêneros como quadrinhos, música, artes e tantos outros espaços até hoje não literários e a internet está divulgando a fala de uma geração extremamente talentosa e prolífica.
-
Como se seduz, se conquista um leitor?
Escrevendo bem e incorporando nessa escrita uma visão de mundo abrangente e contemporânea.
-
O que comunica o escritor e qual o seu papel social? É aceitável o engajamento do escritor, hoje?
Não acredito que alguma escrita, seja ela como for, não seja engajada. As formas de engajamento , ao contrário do passado, é que são cada vez mais múltiplas e diferenciadas.
-
Qual a importância, a seu ver, da letra de música, no que respeita ao seu valor literário e poético?
Acho que a letra de música é uma prática literária que merece grande respeito. E seu valor literário oscila tanto quanto nos textos escritos.
-
Há espaço, ainda, para a literatura nos jornais?
Cada vez menos. O espaço do jornal está reduzindo drasticamente a presença da literatura. Isso se explica pela própria crise e impasses econômicos da imprensa escrita nos dias de hoje
-
Vive-se de literatura no Brasil? É possível?
É difícil não só no Brasil mas no mundo. São poucos os casos do que poderíamos chamar de escritores profissionais. Mas se o mercado editorial se fortalecer, esse será um ponto a ser considerado.
-
Quem merece ser lido, atualmente?
Essa pergunta é complicada. Em princípio todos os escritores merecem ser lidos, deixemos assim.
-
Quem merece ser relido?
Idem.
-
Existe uma "literatura feminina"?
Não. Existem algumas estratégias de linguagem usadas pelas mulheres por razões apenas culturais.
-
1968 ainda está fortemente presente? Em quê?
Nos movimentos de periferia, meio ambiente e em algumas ações do próprio estado.

Nenhum comentário: