15 de agosto de 2008

O canto triste da Araruna

Divulgação
O folclore potiguar está mais pobre. Os grandes mestres dos folguedos estão morrendo. Primeiro, o Boi de Reis de Manoel Marinheiro ficou de luto. Depois, os bonecos de Chico Daniel ficaram órfãos. Agora, o grudo Araruna de Danças Antigas e Semi-desaparecidas ficou sem seu grande dançarino, o mestre Cornélio Campina, que faleceu aos 99 anos de uma parada cardíaca, na última quarta-feira. No próximo dia 8 de outubro, o mestre Cornélio Campina ia completar os 100 anos de idade.

Em 1954, o Mestre formou um grupo de dança com pessoas do bairro das Rocas, com o nome de Araruna Sociedade de Danças Antigas e Semi-Desaparecidas, única no Rio Grande do Norte com estatuto e sede própria; localizada na rua Miramar.

A Araruna nasceu a partir das tradicionais danças aristocráticas de salão, de origem européia, da valorização dos costumes da vida palaciana. Tudo ao estilo das danças aristocráticas brasileiras do século XIX. Mas, acabou misturando estilo de dança erudita como: a valsa, a polca, o xote, a mazurca (herança do colonizador português) e do estilo popular de caráter folclórico como: a dança do caranguejo, o bode, o besouro, a araruna.

Tudo acompanhado de sanfona e vários outros instrumentos. Os dançarinos não cantam. Os cavalheiros usam casaca e cartola. As damas, longos vestidos de saia rodada. O nome Araruna vem de um pássaro preto originário do Pará, que ao cantar pula de galho em galho executando uma espécie de bailado.

A dança Araruna, assim como as demais apresentadas pelo Grupo foi também objeto de pesquisa do folclorista Deífilo Gurgel, que declarou ao Diário de Natal: “O universo coreográfico do Rio Grande do Norte e dos outros estados brasileiros se divide em dois tipos: as danças folclóricas puras (no caso da Araruna e as outras danças apresentadas pelo Grupo) e o universo dos autos populares, com partes mais dramáticas, como é o caso do Boi, da Chegança, os Congos e Fandangos. No caso do Araruna, as danças estão divididas em duas características distintas, têm as mais clássicas, como é o caso da valsa, da polca e do xote e tem aquelas com nomes de pessoas e bichos, como as danças do Caranguejo, Besouro, Camaleão e Maria Rita, que são tipicamente folclóricas”.

Sobre a indumentária de casaca e cartola para os homens e vestidos longos para as mulheres, Deífilo Gurgel acredita que foi o próprio Grupo quem decidiu por esse fardamento mais clássico. “Eu não cheguei a presenciar essa época, mas sei que como eles se apresentavam em festas de São João na Roça, provavelmente a indumentária era caipira. Mas, depois quando organizaram o Grupo Araruna, eles decidiram por uma vestimenta mais clássica, da nobreza do século XIX, que tinha aquelas casacas e cartolas”, explicou o folclorista.

Na opinião do Deífilo, o Grupo Araruna é genuinamente potiguar. “Se existir algum outro Araruna no Brasil é imitação do nosso. Eu sei que existem danças de pares no Rio Grande do Sul. Agora, são pára-folclóricas já que são dançadas por universitários, estudantes. O nosso grupo é gente do povo, é cambista, marceneiro, pescador, profissões humildes. Alguns deles, inclusive, no começo até analfabetos eram, o que caracteriza um folclore autêntico”, disse.

Um comentário:

Anônimo disse...

Choro o Mestre Carpina,

Com certeza ele estará com os anjos numa distancia que os afetos se tocam. Cornélio Carpina foi eternamente um menino a bailar a vida que ele viveu centenária e com muitos volteios, gingas e elegância que a vida perdeu. De fraque e cartola o eterno mestre comandava a Araruna Sociedade de Danças Antigas e Semi-Desaparecidas. Belas coreografias e músicas que só faziam bem aos olhos e ao coração tão massacrado pelos ruídos e safanões dos tempos modernos.
Aprendi a dançar com o mestre Carpina. Mestre Carpina era um grande patrimônio da cidade do Natal que não tem a dimensão da grandeza daquele homem baixinho e mágico, na vida e na dança. Só os gestos conseguem comunicar. As marcas deixadas pelo mestre Carpina vão está em cada passo de dança, cada afeto e cada volteio que dobra e faz mágica num tempo de delicadeza.


Adeus Mestre Carpina
Um cheiro no coração.

João da Mata Costa