31 de agosto de 2008

O estouro da barragem e a fé na cruz santa do Inharé

Fotos e textos: Alexandro Gurgel


Uma das principais cidades da Região do Traíri, Santa Cruz do Inharé é um município próspero, onde abriga 30 mil habitantes na zona rural e urbana. Aos sábados, a feira-livre, a maior da região, atrai milhares de pessoas das cidades circunvizinhas, transformando a livre negociação das mercadorias no ponto forte do comércio local.

Cortada pela BR 226, a cidade de Santa Cruz está localizada a 120 km de Natal, contando com um clima semi-árido durante a maior parte do ano. Porém, no mês de junho, as festas juninas esquentam o frio aconchegante que é soprado da Serra do Doutor, obrigando as pessoas a usarem casacos durante a noite.

Sob as bênçãos de Santa Rita de Cássia, o povo pacato santa-cruzense conta sua história através de acontecimentos marcantes. As cenas da tragédia do dia 1º de abril de 1981, que desabrigou cinco mil pessoas e deixou o Estado do RN sem luz e água por cinco dias, ainda permanece na memória dos moradores do município.

Foram momentos de agonia que marcou as vidas dos cidadãos e fez heroína uma telefonista: Maria de Fátima da Silva, que fez contatos com o prefeito da época, Hildebrando Teixeira, para esvaziar a cidade antes do rompimento da barragem de Campo Redondo, distante 25 km de Santa Cruz, salvando milhares de pessoas.

Apesar de ser o dia 1º de abril, conhecido como o dia nacional da mentira, o alerta da telefonista deu resultado e carros de som anunciaram a ameaça da enchente. Os moradores deixaram para trás suas casas e foram abrigados em prédios públicos ou regiões altas da cidade. Dentro de três horas a enxurrada das águas devastaria a cidade.

Conhecida como a maior tragédia natural do Estado, a enxurrada de Santa Cruz contabilizou seis mortes e 1.044 casas destruídas. A correnteza das águas percorreu ainda cerca de 80 km (equivalente a distância entre Natal e Tangará) e atingiu outros quatro municípios.

Com 14 torres da rede de energia da Chesf derrubados, o Rio Grande do Norte permaneceu uma semana às escuras. Em Natal, o único hospital com gerador na época era o Walfredo Gurgel. Supermercados fechavam mais cedo com medo de assaltos. Sem energia, o bombeamento para abastecimento de água também foi comprometido.

O então governador Lavoisier Maia decretou estado de calamidade pública em toda a região do Trairi e levou fotos da tragédia ao presidente da República, João Figueiredo. O ministro do Interior na época, Mário Andreazza confidenciou ao prefeito de Santa Cruz só ter visto cena igual em guerra.

Com a solidariedade de todos e as bênçãos de Santa Rita de Cássia, um grande mutirão envolveu as instituições públicas e privadas, ONGs, voluntários, igreja e as próprias vítimas. As três esferas do poder executivo esqueceram diferenças partidárias e também se uniram para reconstruir a cidade. As doações chegavam de todas as regiões do Brasil.

Nenhum comentário: