20 de outubro de 2008

Entrevista com Flávio Rezende

Foto: divulgação
Flávio Rezende é jornalista formado pela UFRN nos idos de 1985. Como profissional, já trabalhou em vários locais, tais como TV-U, TV Tropical e Diário de Natal, onde escrevia a coluna Giro Geral. Hoje, Flávio Rezende trabalha na UFRN como Coordenador de Comunicação Social do CCHLA. O jornalista edita vários jornais e revistas de diversos estilos, assina a coluna Giro Geral no Jornal de Natal, assina colunas nas revistas 40 Graus, PhD, Paparazzi, Flor de Lotus, Reintegração Cósmica, etc. Tem 21 livros publicados, sendo o primeiro em 1981,uma peça de teatro encenada e alguns livros à espera de publicação. Flávio ainda comanda um projeto social chamado “Casa do Bem”, voltado para a população carente do bairro de Mãe Luíza.

No final da década de 70 e início dos anos 80, você participou ativamente dos movimentos culturais como a Galeria do Povo, na Praia dos Artistas, e escreveu livros em mimeógrafos. Qual a semente cultural que germinou dessa época?
Flávio Rezende - Olho com muito carinho para o passado. Fui ativo no movimento cultural, produzi muito, fiz bons amigos. Dizer o que fica do que passou é sempre muito difícil e corre-se riscos em afirmativas assim. A semente cultural pessoal que germinou foi ter recebido ali alimento necessário para que gostasse do meio e continuasse tentando fazer cultura. Até hoje estou nessa. De maneira global, alguns ficaram no caminho. Uns morreram vítimas de seus pensamentos, outros de drogas, outros de doenças. Enquanto os sobreviventes estão por ai no cenário, uns produzindo ainda, outros repetindo o que já foi feito muito tempo atrás, outros estão bêbados e vivendo de passado, mantendo um suicídio lento, gradual e seguro. Enfim, como tudo na vida, existe muita pluralidade em tudo e uns seguem, como eu, escrevendo, vivendo, publicando e acreditando em um mundo melhor. Foi um tempo bom e que incentivou muitos que hoje ainda estão militando culturalmente.

Como jornalista, você já atuou nos principais veículos do Estado, inclusive escreve artigos para O Mossoroense. Como você avalia o jornalismo praticado no RN?
FR - Para mim é o mesmo jornalismo praticado no mundo todo. Tem os colunistas legais que publicam tudo, tem os cheios de chiliques, tem os repórteres que apuram, tem os que não sabem escrever, tem pauteiro preguiçoso, tem os atentos, tem gente inteligente, tem gente burra, tem gente só atrás de dinheiro, tem dinheiro atrás de gente, tem os sérios, os do mal. Enfim, é assim no mundo todo e aqui não é diferente. Só lamento darem muito espaço para crimes, coisas assim. Até eu, que sou amigo de todos, tenho certa dificuldade para conseguir espaços para a Casa do Bem, por exemplo. Notinhas saem muitas, mas conseguir que cubram os eventos, só esporadicamente, mas não tenho muito que reclamar, até que nossa entidade tem tido apoio.

Qual a linha literária que você segue na sua escrita?
FR - Tenho 21 livros publicados de formatos diferentes. Livros quadrados, redondo, piramidal, dos dois lados, com outros autores, de poesias, de contos, ficção, infantil, erótico, esotérico, romântico... Enfim, atuo de diversas maneiras. Gosto de escrever de todo jeito, mas tenho tendência a romancear meus livros em ambientes espirituais, Índia, outras dimensões, me sinto bem nesses lugares.

Quais as suas referências literárias?
FR - Já li muito. Hoje, não tenho muito tempo, mas ainda leio. Gosto mais dos livros de Sai Baba, Krishna, Osho, os de auto-ajuda, mas leio de tudo, sou louco por livros. Já li de tudo que possa imaginar, clássicos, Lobato, Madame Bovary, Os 10 Dias que Abalaram o Mundo, As Veias Abertas da América Latina, Jorge Amado, revistas Veja, Época, Revista dos Vegetarianos, etc. Mas, gosto mesmo é de livros espirituais.

Qual é a real busca de um escritor? O que o inspira?
FR – Acredito ter uma missão. Acredito que encarnei para escrever sobre coisas espirituais de maneira disfarçada. Se você vê que aquele livro é espiritual, pode não querer. Disfarço o assunto em romances, ficções, invento estórias e coloco na boca dos personagens as coisas que acredito. O que me move é fazer o bem através do que escrevo. Tudo que faço na vida é querer fazer o bem de todas as maneiras. A literatura é uma delas. Amo ajudar, ser útil, fazer o bem, isso sim me torna uma pessoa feliz e consciente que estou aqui para isso.

Nos livros e nos jornais, qual a linguagem que você utiliza para conquistar seus leitores?
FR – Sou meio poético, gosto de escrever com um pouco de poesia. Uso palavras tipo paraíso, céu azul, harmonia, paz, felicidade, etc. Amo escrever inserindo em tudo palavrinhas mágicas que fazem bem.

Seu último livro “O Sonhador” é uma autobiografia ou um romance casual?
FR - A mensagem de um escritor que sonha em publicar um livro que o torne um escritor famoso, para que possa viver do seu trabalho, é de certa maneira o que eu quero para mim. Estou cansado de expediente, assessoria de imprensa, trabalho pesado. Quero viver de escrever livros, esse é meu grande sonho.

Atualmente, você se identifica mais como jornalista ou escritor?
FR – Ainda sou mais jornalista, mas mentalizando para ser mais escritor. Um dia isso vai acontecer, assim espero.

Você já se candidatou para uma cadeira na Academia Norte-riograndense de Letras. Como surgiu a idéia?
FR - Na vida tomamos algumas decisões por impulso. Recebi uma ligação de Thaísa Galvão, do Jornal de Hoje, dizendo que tinha uma vaga aberta na Academia de Letras, se ia me inscrever. De supetão, eu disse que sim, foi um impulso. Depois, me entrevistaram e disse que gostaria de revitalizar a academia por ainda estar jovem e ter energia para dinamizar as atividades lá. Colocaram injustamente na manchete do jornal que eu estava propondo Viagra para os imortais. Foi lamentável. Não tive nenhum voto e fiquei o tempo todo explicando que não tinha dito aquilo. Minha pretensão morreu justamente por um erro de um editor, um amigo de profissão. Hoje, não penso mais, mas sei que um dia estarei lá, é natural, tenho mais livros que muitos deles juntos. Seguramente, um dia me convidarão. Aceitarei, sem problemas.

Você acha que a Academia Norte-riograndense de Letras cumpre seu papel cultural?
FR – Podia levar estudantes lá para dentro, realizar palestras nos colégios, ter uma atuação mais eficaz. Acho muito parada, sem vida.

Qual a avaliação que você faz da Literatura Potiguar na atualidade.
FR - Acredito que tudo é igual em todo canto. Aqui se produz muito e com variedade. Tem escritor de todo jeito e qualidade. Não leio muitos, mas pincelo alguns, gosto, tenho lido artigos, estou muito interessado em artigos, gosto de alguns, de outros mais ou menos, mas o que se faz aqui é o que se faz no mundo. Lógico que em proporções mais amenas.


Em sua opinião, quem faz literatura de qualidade em solo norte-riograndense?
FR – Como não leio tudo, não me acho com condições de fazer uma análise correta. Prefiro calar.

Como foi seu contato com a cultura espiritual indiana?
FR - Acredito que somos hoje a soma do passado em outras vidas. Gosto da comida indiana, sou vegetariano, gosto do hinduísmo, aceito com alegria as afirmativas espirituais de lá. Gosto da roupa, do povo, me sinto em casa quando vou. É um contato de uma pessoa que volta para casa. Sinto-me bem. Um dia, pretendo morar um tempo na Índia, se possível perto de Sai Baba ou de sua próxima encarnação, Prema Sai.

Num mundo impregnado pela violência, corrupção, preconceito, miséria moral e econômica, ainda há espaço para as “palavras do bem”?
FR - Sempre haverá, pois o bem é natural dentro da gente. Quem faz o bem se sente bem. Quem pratica o mal sabe lá no fundo que está errado, não é natural, provoca reflexão, a pessoa sabe que não está certo. Então, um dia essa pessoa vai caminhar para o bem. Já estando nele, se embriagando com ele, mergulhando nele, você começa a sentir cada vez mais prazer. Não me canso de querer fazer o bem, é meu ão, meu caminho natural.

Como surgiu o projeto Casa do Bem?
FR - Morando em Mãe Luiza, continuei ajudando as pessoas, pois sempre fui assim. Desde pequeno gosto disso. Depois, entrei no Natal Voluntários e percebi que as pessoas gostam de ajudar fazendo o que elas sabem fazer. Então, tive a idéia de construir um espaço físico para que nele as pessoas possam passar para as outras gratuitamente suas habilidades pessoais. Hoje, a Casa do Bem está sendo construída e mesmo sem teto, já desenvolvemos inúmeros projetos humanitários, tantos que minha vida hoje é quase que toda voltada para o cumprimento destas ações.

Atualmente, você desenvolve vários "projetos do bem" na Casa. Quais os mais importantes e suas áreas de atuação?
Resposta – Na Casa ainda nenhum, faço no mundo, na minha residência e em outros locais. Temos parceria para empregar pessoas, temos ações na área de alimentos, temos muitas ações culturais como o Grupo de Dança Ritmo Bom, o livro Letras e Imagens do Bem, o show Diga Sim ao Bem, a exposição Artes Plásticas do Bem, o coral Sementes da Paz, o grupo vocal Casa do Bem. Na área de esportes, temos o Futebol do Bem, o Casa do Bem Futebol Clube, temos o Bazar do Bem, Surfistas do Bem, Hotel do Bem, o PaZlhaço da Paz que trabalha para que os jovens não criem pássaros em cativeiro, tanta coisa que nem me lembro de tudo.

Você tem pretensões de expandir a Casa do Bem para outras cidades?
FR – Sim, até morrer mentalizo todos os dias para deixar criado no mundo 101 Casas do Bem. Mentalizo algumas coisas positivas cotidianamente, essa é uma delas.

De que maneiras as pessoas podem ser voluntárias na Casa do Bem?
FR - Temos um site (http://www.casadobem.org.br/) onde mostramos nossas ações. Quem quiser participar, peça para eu cadastrar e-mail pelo acasadobem@gmail.com ou ligue 3202-3441, que conversaremos sobre esse desejo.

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