16 de novembro de 2008

Entrevista com Klaus Dieter Karl

Alemão por ser descendente de alemão e brasileiro por ter nascido no Brasil, Klaus Dieter Karl, 51 anos, nasceu em São Paulo, mas até os cinco anos de idade só falava alemão. Engenheiro civil, Klaus trabalhou durante 5 anos como engenheiro numa firma de saneamento e tratamento de água, fazendo obras por todo o Brasil. Chegou a Natal em 1990, dando aulas de alemão e abriu um bar, o Pirata Radadá. Tempos depois, montou a Cultura Alemã, uma referência do intercâmbio entre estudantes dos dois países.

Como surgiu a idéia de criar a Cultura Alemã?
Já no tempo de estudante de engenharia civil, eu dava aula de alemão para outros estudantes. As aulas de alemão sempre foram o meu sustento, mesmo depois de formado. Assim que cheguei a Natal, comecei a dar aulas em nossa casa, em Lagoa Seca. Os alunos foram chegando e eu resolvi retomar meu antigo contato com o Instituto Goethe. Comecei a freqüentar os encontros de professores de alemão, os seminários e as palestras em Recife, Salvador e Fortaleza. Mudamos para o bairro de Petrópolis e estava fundada a Cultura Alemã em Natal.

Quais são os pontos de identificação entre as culturas brasileira e alemã?
No Brasil tem muito da cultura européia, inclusive da alemã. Os alemães vieram como imigrantes no início do século 19, a fim de substituir a mão-de-obra escrava que estava em fase de redução. O Sul do Brasil é uma fusão de várias culturas e a cultura alemã contribuiu na gastronomia, na linguagem, na educação, na arquitetura, na agronomia, nos costumes sociais, na música e literatura; no comércio e na indústria. Tivemos e temos muitos empresários, comerciantes e artistas brasileiro-alemães em todas as áreas. No Nordeste, os alemães chegaram com o início do fluxo turístico europeu para esta região nos anos 70.

A Cultura Alemã proporciona algum tipo de intercâmbio entre brasileiros e alemães?
Incentivamos todo o tipo de intercâmbio. É a melhor forma de um jovem aprender uma língua. Menores de 18 anos têm a possibilidade de ficar em um país estrangeiro por um valor muito barato se associando ao Rotary. O estudante também pode fazer contato diretamente com uma universidade alemã e estudar lá por meio ou um ano. Alguns departamentos na UFRN já têm um intercâmbio com uma universidade alemã, o que facilita as coisas. Além disso existe uma bolsa do DAAD para um curso de alemão de 6 semanas em uma universidade alemã para quem já possui o nivel básico. Vários alunos da Cultura Alemã têm sido aprovados nos últimos anos.

Durante todo esse tempo em Natal, quantos alunos você já formou e estão falando alemão fluentemente?
Durante esses 18 anos, tive cerca de 900 alunos. Com a maioria perdi o contato. Muitos apenas começaram o curso e não prosseguiram. Outros tantos, porém, estão formados e trabalhando em empresas dentro e fora do Rio Grande do Norte. Inclusive, na Europa. Muitos ainda estão na Universidade e outros terminaram o nível básico e estão esperando uma folguinha nos estudos para retomar o alemão.

Atualmente, a Cultura Alemã realiza alguns eventos culturais com destaque para os costumes alemães. Quais são esses eventos e quando acontecem?
Temos realizado alguns eventos neste espaço, como mostra de filmes alemães, encontros culturais e gastronômicos. Ultimamente, fazemos numa sexta-feira por mês o "Feierabend" que é um happy hour para os interessados na cultura alemã se encontrarem e saborearem uma comidinha típica e tomar uma cervejinha. Também organizamos caminhadas ecológicas, ajudando assim na conscientização ambiental de uma forma direta, ou seja indo aos locais preservados e também degradados.

Você pensa em expandir a Cultura Alemã para outras cidades do Rio Grande do Norte, como Mossoró?
Estamos abertos a parcerias com professores de outras línguas, inclusive alemão. Se tiver uma pessoa que queira abrir uma filial em Mossoró, estaremos prontos para conversar.

Como você percebe a influência alemã na cultura brasileira?
O alemão contribuiu muito com o seu jeito de ser: emprendedor, organizado, pontual e sincero. Acredito que a maior contribuição contemporânea é a conscientização ambiental. Melhoramos muito ecologicamente, inclusive no Nordeste, e os alemães tiveram boa parcela de contribuição, mostrando ao mundo como é possível viver sem degradar o ambiente.

A colonização alemã se deu no Sul do País. Porém, você poderia dizer quantos alemães vivem no Rio Grande do Norte?
Não sei precisar, mas estimo que no Rio Grande do Norte vivam cerca de 300 alemães, uns 200 na Grande Natal.

A melhor cerveja do mundo é alemã ou é somente um mito?
A cerveja alemã é fabricada em pequenas cervejarias e muitas vezes consumida apenas naquela região. Ela é mais encorpada, leva mais malte e menos arroz que a nossa. Existem vários tipos, aqui só temos um ou dois. Lá, o mestre cervejeiro também é um grande apreciador da bebida. Dá até para tomar sem ser gelada.

De acordo com Caetano Veloso, só é possível filosofar em alemão. A língua portuguesa também pode proporcionar discussões filosóficas?
A estrutura da língua alemã facilita a descrição de idéias, já que temos o conceito de "palavra composta" que facilita o emprego de neologismos. Temos também a declinação que ajuda a dar maior clareza ao texto, evitando a dupla interpretação. Mas nada melhor do que filosofar em sua própria língua. A filosofia não pode ser vista só como uma ciência abstrata, pois irá variar muito conforme a cultura, conhecimento lingüístico e outros conhecimentos adquiridos do pretenso filósofo.

Quais são seus projetos para o futuro?
Continuar a fazer o que venho fazendo. Oferecer mais uma opção cultural para quem estiver interessado. Talvez voltar com um maior número de eventos como os filmes e quem sabe trazer mostras de música e teatro europeu. Outra idéia é abrir o espaço para mostras de artes plásticas e fotografia. Nada de grandioso, apenas a consolidação de mais um espaço acolhedor no corredor cultural dessa cidade.

Um comentário:

Julien Karl disse...

Parabéns Alex. Nunca tinha lido essa entrevista. Nesse momento faz precisamente um ano que ele morreu. Estou vagando pela internet em busca de transformar esse pesadelo eterno em algum tipo de realidade.

abs