22 de novembro de 2008

Mauiagens Culturais

ARTIGO

Vicente Serejo
serejo@zas.com.br

A cultura foi um show de maquiagens nos últimos anos. Se o maior pecado da Fundação José Augusto é não ter uma política cultural definida, fragmentada pelo traço rotineiro dos próprios deveres do organograma, na Prefeitura a politicagem foi a marca. Espetáculo agravado por um jornalismo cultural de descarada cumplicidade - servidor de suas vaidades e acólito dos erros sem nada questionar, numa quermesse de carrossel de cavalinhos de luminosos elogios.

Numa coisa a Capitania das Artes foi perfeita de tão aguçada na sua visão: ao perceber o grande e visível desejo do prefeito Carlos Eduardo Alves de ser um novo Carlos Lacerda, reunindo, numa mesma alma, um político genial e um intelectual brilhante. Não fez o milagre, claro. Nem poderia.

Mas montou os cenários da quermesse e bateu palmas. A Capitania traçou o risco e fez o bordado, a proteger uns e discriminar outros, como se fora uma propriedade privada. Nem por isso todas as conseqüências foram ruins. Como prestigiou alguns amigos que por coincidência são bons escritores, ficaram alguns bons livros, sem um plano editorial capaz de documentar a prosa e a poesia de Natal. Caiu no espetáculo dos suplementos culturais e, estes, no aplauso gracioso.

Resultado: nada o falso jornalismo questionou. E não exerceu seu papel crítico ao misturar as folhas. Na feia e pobre mixórdia feita de interesses uns e de conveniências outros. Resultado: fica pouco. Um gordo álbum de recortes; uma coleção de elogios e sorrisos bem fotografados, e só. O museu da cultura popular, na antiga Estação Rodoviária - monstrengo cujo melhor destino teria sido a tromba dos tratores - é um vexame. Não faz a leitura da obra de Câmara Cascudo, o maior nome nacional deste saber. Parece ser o efeito tardio de velho rancor familiar. O memorial da cidade? É a novidade, sim, mas, perdoem: foi uma idéia deste cronista.

Quanto a não fazer política, não é bem assim. Fui conselheiro, pelo menos alguns anos, da Fundação Hélio Galvão, por convite de sua direção. Havia uma razão que só descobri nesses anos recentes: naquele tempo eu também era editor do Diário de Natal e, como tal, tinha algum poder de influência na publicação de matérias. Como os editores de cultura de hoje, esses que integram o conselho editorial e editam a revista do alcaide, tudo financiado pelas burras oficiais.

Fui convidado várias vezes para os cafés festivos que a Fundação Hélio Galvão promovia nos aniversários do então deputado Carlos Eduardo Alves. Reconheço: um bom investimento. Neles nunca se tratava de cultura. Só conversas amenas naquelas manhãs pitorescas do Tirol. Na política municipal mais recente, anterior a 2008, vivi intensos exercícios da palavra e logo provei o gosto forte da ingratidão. Foi a vida que quis assim. E a maquiagem derreteu no calor da luta...

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