23 de setembro de 2011

Caos cultural em Macau

Teatro Municipal Hianto de Almeida está fechado há 6 anos. O retrato do abandono cultural que o município está mergulhado.

Macau é uma cidade rica. Levando em conta que o município tem a maior arrecadação de royalties no Estado, pagos pela Petrobras pela exploração de petróleo na Bacia Potiguar, cifras que chegam a mais de dois milhões de Reais todo mês. A indústria salineira também gera riquezas, produzindo 95% do sal consumido na mesa dos brasileiros, empregando mais de cinco mil pessoas (direta e indiretamente), numa cidade com pouco menos de 30 mil habitantes.

Por força da Lei e muitas manobras políticas, a Prefeitura de Macau recebe dinheiro de convênios com o Governo Federal e Estadual, como o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) ou o Sistema único de Saúde (SUS), além de outras siglas menos vultosas. O executivo municipal ainda conta com uma arrecadação significativa de ICMS. A cidade abriga um comércio pulsante, sendo considerada uma das melhores praças comerciais do Vale do Açú.

Quem entra na cidade logo se encanta com o imponente cata-vento azul ou com as pirâmides de sal. Pode até pensar que nunca houve crise financeira em Macau, distante cerca de 200 km de Natal. Mesmo com tanto dinheiro na Prefeitura, a cidade abriga um povo pobre que vive em condições subumanas no bairro dos Navegantes, na beira do Rio Piranhas-Açú. A maioria das pessoas são pescadores ou catam mariscos na lama. A comunidade não tem acesso a necessidades básicas como saúde, educação, higiene e até alimentação.

Toda essa pobreza franciscana está refletiva na cultura local. Os maiores aparelhos culturais de Macau estão desativados. Seja pelo descaso da Prefeitura Municipal ou da inoperância da gestão passada do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, na implantação das políticas culturais que não valorizavam a cultura do povo macauense. O Teatro Municipal Hianto de Almeida está fechado há mais de quatro anos e o município nada fez para recuperar o prédio e devolver o teatro à Macau.

O derradeiro lampejo de cultura que a cidade de Macau respira é o seu carnaval abaianado, onde bandas de forró de plástico fazem a folia de momo parecer um grande arraial junino. Durante os dias do famoso “carnaval de Macau”, mais de 200 mil pessoas segue atrás do trio elétrico, carregados pela troça do mela-mela, crentes que estão contribuindo com a cultura da cidade. Orgulhoso, todos os anos, o prefeito Flávio Veras cumpre seu ritual de estrela brejeira, quando reúne a imprensa tupiniquim para anuncia a grande festa de Macau, regado a churrasco e cerveja gelada nos melhores restaurantes de Natal e Mossoró.

Casa de Cultura de Macau em ruínas

Casa de Cultura Palácio dos Salineiros está fechada há mais de 4 anos.

A Casa da Cultura “Palácio dos Salineiros de Macau” foi criada pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte, na gestão de François Silvestre a frente da Fundação José Augusto, para incentivar a produção dos artistas macauenses e a descoberta de novos talentos. Além disso, a implantação da Casa de Cultura deu um destino nobre para um dos últimos casarões antigos da cidade e ainda preservado.

A obra de reforma e adaptação do Palácio dos Salineiros teve investimento total de R$ 280 mil, divididos: R$ 160 mil destinados à aquisição do imóvel, R$ 30 mil para a compra do mobiliário e R$ 90 mil empregados na restauração. O prédio de arquitetura colonial pertencia ao ex- prefeito do município Albino Mello e foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural.

Atualmente, o antigo prédio de 16 compartimentos está em ruínas, em total estado de abandono e sem as mínimas condições para fortalecer a identidade cultural e resgatar a história do povo de Macau. Enquanto esteve largada pelos órgãos responsáveis, a o Palácio dos Salineiros foi saqueado várias vezes por ladrões, além de ter sido utilizado para consumo de drogas e prática de sexo.

Conforme Sônia Maria Souza da Purificação, agente de cultura e responsável pela Casa de Cultura até o governo anterior, há vários Boletins de Ocorrências feitos na Polícia Militar e entregues também à Fundação José Augusto. A situação estrutural da Casa de Cultura de Macau piorou durante o rigoroso inverso do ano passado, com infiltrações d’água nas paredes e o desabamento do teto de alguns cômodos.

O Palácio dos Salineiros está em estado de calamidade. Não há água para beber, os banheiros não podem ser usados porque não têm água e as instalações elétricas foram saqueadas, não existindo energia na Casa. “Não existe segurança na Casa. É trazer qualquer material para ser roubado no outro dia”, afirmou Sônia, ressaltando que a Casa de Cultura não tem vigia nem muito menos auxiliar de serviços gerais.

A Casa de Cultura deve ser interditada

Auditório equipado com ar e cadeiras para receber 80 pessoas está destruído.

Apesar de preparada para ser palco das manifestações culturais de Macau, a Casa de Cultura não oferece as mínimas condições de uso.  Sônia relatou que o único auditório da Casa, todo equipado com ar-condicionado, um mini-palco, computador e sistema de som, com condições para abrigar 80 pessoas sentadas, foi completamente destruído pelas chuvas e saqueado pelos vândalos.

Ela ainda relatou que não há nenhuma vontade da Prefeitura de Macau em ajudar a Casa de Cultura a sair dessa situação. Conforme Sônia, o prefeito Flávio Veras esteve na Casa há dois anos, falando que ele iria solicitar a Casa de Cultura ao Governo do Estado para ficar aos cuidados da Prefeitura.

A Casa da Cultura “Palácio dos Salineiros de Macau” deveria abrigar biblioteca, museu, pinacoteca, administração, auditório para 80 pessoas, duas salas para oficinas, cozinha/café e espaço cultural para eventos, com 100 metros quadrados de área coberta. Porém, a Casa de Cultura de Macau está em estado de ruínas e abandonada pelos órgãos governamentais. 

Um comentário:

Anônimo disse...

Estes dois marcos da nossa cultura são um reflexo do que ela se tornou no município: ruínas onde se debatem os insanos e os sem rumo, sem poder chegar a lugar nenhum.